UOL Notícias Tecnologia

04/10/2006 - 17h09

Criador de "coelho verde" diz que o meio não é a mensagem

Por Sebastian Tong

CINGAPURA (Reuters) - Coelhos mutantes, morcegos robotizados e bactérias em caldo de cultura parecem mais objetos de ficção científica do que arte, mas o artista contemporâneo Eduardo Kac afirma que o público não deveria se fixar na tecnologia por trás de suas obras.

Uma das figuras mais importantes da bioarte --movimento artístico que usa tecidos vivos e robótica como mídia--, Kac deseja que seu público pense na maneira pela qual a tecnologia muda as formas de relacionamento entre as pessoas.

"Não tenho interesse na ciência ou no aspecto comercial da tecnologia. O que me interessa é a poesia e a filosofia daquilo que a vida significa", disse à Reuters o artista em entrevista telefônica, de Paris.

Como Joe Davis e Ken Rinaldo, dois outros bioartistas conhecidos, Kac incorporou mensagens a bactérias e usou robótica em suas obras de arte.

Kac, 44, chegou às manchetes de jornais em todo o mundo seis anos atrás, com um coelho modificado por engenharia genética cujo pêlo brilhava no escuro.

O trabalho artístico, "GFP Bunny", foi batizado em função da proteína verde fluorescente (gree fluorescent protein, ou GFP) de uma água-viva do Pacífico, injetada em óvulos de coelhos albinos.

Devido a uma disputa com o laboratório francês que efetivamente criou o animal, Kac não pôde manter o coelho.

Mas o coelho, que brilhava em tom verde intenso sob a luz azul, deflagrou uma séria controvérsia sobre as questões éticas da engenharia genética, e inspirou referências culturais que abarcam de livros infantis a um romance da escritora canadense Margaret Atwood.

"A resposta foi muito variada, houve muita gente que se indignou, e outras pessoas que ficaram intrigadas", afirmou Kac.

O mais recente trabalho de Kac --"Espécime de Segredo Sobre Descobertas Maravilhosas"-- está entre as quase 100 obras de arte conceitual em exibição na primeira bienal de arte de Cingapura, que fica em cartaz até 12 de novembro.

A cidade é o cenário ideal para o trabalho de Kac. Cingapura investiu milhões de dólares na criação de um setor biomédico e se tornou um dos maiores centros mundiais de pesquisa com células-tronco, atraindo eruditos como o cientista britânico Alan Colman, cuja equipe clonou Dolly, a mais famosa ovelha do mundo.

A instalação de Kac na bienal consiste de seis armações complexas de vidro, que ele as definiu como "biotopos", que contam com um depósito de terra onde vivem microorganismos que criam espécimes conforme reciclam nutrientes para tirar seu sustento.

Kac disse que a "comunidade ecológica" de cada um dos biotopos --que exigem luz e água periodicamente-- evocam o que cada um vê a distância no espaço e se ajusta à sua idéia de trabalhos criativos de arte que sejam literalmente vivos.

Compartilhe:

    Últimas Notícias

    Hospedagem: UOL Host