Por Taís Fuoco
SÃO PAULO (Reuters) - Enquanto o projeto do notebook educacional não avança dentro do governo federal, uma opção alternativa chegou a algumas escolas da cidade de Serrana (SP) com a promessa de custo baixo e maior conforto aos estudantes de escolas públicas.
O "lap tup-niquim", como foi batizado, ou a carteira escolar digital, foi patenteada por pesquisadores do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI) de Campinas e conta com o apoio da Secretaria de Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Secretaria de Ensino à Distância do Ministério da Educação.
Victor Pellegrini Mammana, gerente da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de Displays do Governo Federal e um dos responsáveis pela patente do lap tup-niquim, afirma que o governo federal estuda a adoção das carteiras como uma alternativa, e não um substituto, aos notebooks educacionais.
Ele cita, entretanto, em entrevista à Reuters, que "o laptop (educacional) tem certas características, como tela pequena, teclado apertado e o fato de poder ficar obsoleto em pouco tempo".
Por isso, "surgiu idéia de fazer algo diferente, que valorizasse o conforto e a saúde" dos estudantes da rede pública.
No modelo, a carteira do aluno recebe uma tela de vidro que é, na verdade, um display sensível ao toque que interage com uma caneta e funciona como um terminal de computador.
Um software permite armazenar como arquivo digital tudo o que o aluno escreve com a caneta ou lapiseira e o terminal também pode acessar a Internet.
Segundo Mammana, "o preço do equipamento pode ficar abaixo de 800 reais por unidade" e um terminal pode ser compartilhado por vários alunos, o que reduz ainda mais seu custo.
De acordo com o pesquisador, já existem "vários grupos privados dispostos a fabricar" o modelo no país. Ele citou, especificamente, dois pedidos de licenciamento da patente registrada nos Estados Unidos e no Brasil.
Os nomes das companhias ainda não podem ser revelados, segundo Mammana, mas uma delas é brasileira e outra norte-americana, informou.
Cidades como São Vicente e Campinas, em São Paulo, assim como Erechim, no Rio Grande do Sul, já manifestaram interesse em também testar o lap tup-niquim, de acordo com o pesquisador.
Segundo Mammana, tramitam hoje algo como "50 emendas parlamentares para que cada cidade tenha o seu recurso" de carteira digital.
GOVERNO QUER ATRAIR FABRICANTES
Mammana gerencia um grupo do CTI que propõe medidas ao governo para atrair fabricantes de displays aos país.
O segmento de displays, ou mostradores digitais, inclui desde telas de plasma e cristal líquido para TVs e monitores de computador até a tela do celular e o mostrador de uma bomba de gasolina.
Mammana explicou que a cadeia brasileira de displays é basicamente constituída dos tubos de TV, bastante concentrada em Manaus.
"Esse segmento está perdendo relevância porque todo mundo quer LCD e as telas de tubo estão ficando obsoletas", disse.
Diante da falta de fabricantes das tecnologias mais modernas, o que se viu nos últimos 3 anos foi um aumento do déficit comercial desse produto, por conta do aumento nas importações.
Em 2007, por exemplo, o déficit em displays foi de 1,463 bilhão de dólares. "Em 2004 não passava de meio bilhão e a média anual era de 300 milhões de dólares", compara Mammana.
"O Brasil era um produtor importante de CRT (tubos), agora essa produção perdeu totalmente a importância. Isso exige uma ação para reverter esse quadro", afirmou.
O grupo gerenciado por Mammana espera que, através do estímulo às parcerias e da desoneração fiscal dos gastos com pesquisas, o Brasil possa atrair elos da cadeia de fabricação de telas até o final de 2010.
"Talvez trazer uma indústria completa seja um desafio grande, mas um elo da cadeia não", disse o pesquisador.
(Edição de Alberto Alerigi Jr.)