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15/03/2006 - 18h16

Entre a CeBit e a Chapada Diamantina

Marcilio Kimura
enviado especial a Hanover
A última vez que tinha andado tanto como nesta semana de CeBit foi numa viagem de oito dias à Chapada Diamantina. O esgotamento foi o mesmo. Aqui, como lá, não consegui ver tudo que queria, tantas eram as atrações. Mas as semelhanças param por aí.

Na feira, estiveram quase 450 mil pessoas em 310 mil metros quadrados. No parque nacional, encontrei no máximo 30 pessoas em 1.520 quilômetros quadrados.

No evento em Hannover, estiveram 6.262 empresas expositoras. Supondo que somente 20% delas me interessassem e que eu perderia ao menos 20 minutos em cada estande, daria 24.800 minutos, ou mais de 413 horas, ou pouco mais de 17 dias, sem contar o tempo de deslocamento entre um estande e outro e entre um pavilhão e outro. Nem um segundo para sono, comida, bebida, banheiro, amor, distração e tudo que é básico na vida.

Na Bahia, não faço a mínima idéia da quantidade de cachoeiras, grutas, lagoas, animais e plantas exóticas e paisagens fantásticas, mas passaria infinitamente mais tempo para conhecer tudo.

Aqui, tinha sashimi, joelho de porco, pato pequim (mesmo em tempos de gripe aviária), pizza, esfiha, sanduíche e outras comidas típicas de boa parte dos 71 países representados a alguns metros de distância, sem contar as inúmeras marcas de refrigerantes, cervejas, vinhos, uísques e outras bebidas.

Tinha wi-fi e banda larga para todo canto. Tinha música, foto, vídeo digitais na palma da mão. Havia eletrodomésticos que me avisavam o que eu tinha de fazer em casa. Poderia ser localizado por qualquer um em qualquer cidade do mundo. Tinha computador que poderia controlar só com os olhos. Havia sistemas e robôs que fazem muitos serviços chatos, perigosos, humanamente impossíveis ou que até sentem o que eu sinto. Enfim, tudo o que preciso para viver "isolado".

Lá, tinha cozido de palma (uma espécie de cacto), jaca passa, cachaça de arnica (um cicatrizante), vinagre de banana, tubaína e mais uma dúzia de comidas e bebidas. Não tinha energia elétrica. Fogão, só a lenha. Não podia tomar banho com xampu ou sabonete, porque o banho é no rio e a gente bebe a água do rio. Telefone ou sinal de TV analógica, somente a alguns quilômetros de distância, por trilha, a pé. Enfim, todos os motivos para morar na cidade.

Ignorando a passagem aérea, gastei aqui aproximadamente 1.600 euros (1.000 euros de hotel e 600 de alimentação e bobagenzinhas, como adaptador de energia elétrica, chiclete e muito café), sem contar que não tive de pagar condução e Internet (eram gratuitos para a imprensa), e não comprei nenhum eletrônico. Não fui a cinema, teatro, show ou balada.

Ignorando a passagem de ônibus, gastei naquelas férias cerca de R$ 500 em hospedagem, guia, alimentação e outras bobagenzinhas, como cigarro, repelente e cortador de unha.

Quando acredito que o ideal existe, imagino um lugar aprazível como o meio termo entre os dois extremos. Opa, será que não estou pedindo uma cidade como São Paulo? Talvez seja melhor ter de escolher mesmo, entre um e outro. Aí, não vejo muita alternativa: prefiro a Chapada à CeBit. Porque lá, mesmo faltando fôlego, se vive. Aqui, sobrevive-se.

E, francamente, isso faz uma diferença...

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