Topo

Câmera de bolso Canon N funciona como acessório fotográfico do celular

A Canon N não tem ""botão disparador"" do obturador: em vez disso, você tira fotos pressionando um anel de plástico prateado em torno da lente, que se mexe ligeiramente e faz um clique - Divulgação
A Canon N não tem ''botão disparador'' do obturador: em vez disso, você tira fotos pressionando um anel de plástico prateado em torno da lente, que se mexe ligeiramente e faz um clique Imagem: Divulgação

David Pogue

Do New York Times

06/05/2013 06h00

As tecnologias vêm e vão em ondas. Ultimamente, as ondas estão indo e vindo mais rapidamente.

As ondas que estão vindo são: tablets, e-books, filmes online. As ondas que estão indo são: desktops, telefones fixos e qualquer coisa em disco, fita ou papel.

É fascinante ver as indústrias em decadência lutando para permanecerem relevantes. Tome, por exemplo, a onda que se vai das câmeras de bolso. Não é de estranhar que ninguém as compre mais. O telefone tira fotos quase tão boas e é muito mais conveniente.

Você sempre tem o telefone por perto, e pode transmitir as fotos assim que as tira.

Mas a Canon, a fabricante número um de câmeras do mundo, sonhou com uma resposta criativa para a ameaça da câmera dos telefones. É uma câmera projetada para atacar a ameaça do celular em três frentes.

A primeira enfatiza as características que um smartphone não consegue alcançar, como lentes de zoom. A segunda imita o funcionamento e os recursos de um smartphone. A terceira permite transmitir as fotos para o celular para serem enviadas imediatamente ou postadas online. O resultado é a Canon PowerShot N (US$ 300), que é metade câmera de bolso e metade acessório fotográfico do celular.

Vantagens sobre o celular

Na categoria de recursos que uma câmera de celular não tem, a Canon N começa oferecendo uma lente com zoom poderoso -8x, comparado com 0x de um smartphone. O zoom digital, quando a câmera simplesmente aumenta a foto para fazê-la parecer mais próxima, não conta.

A N também tem lentes e um sensor muito maior e mais sensível. O sensor da N não é grande demais para uma câmera –mede 0,4 polegadas diagonalmente- mas é muito melhor do que aquele que vem em no telefone. Por fim, a tela da N gira 90 graus, então você pode tirar fotos em ângulos interessantes.

A segunda categoria, que imita um desenho e a operação de um telefone, é mais intrigante. A Canon N é uma das câmeras mais estranhas que você já viu. É quase um quadrado, quase um bloco liso, preto ou branco. Tem apenas três botões físicos, todos minúsculos. Power, Play e Connect to Phone (Ligar, Tocar Conectar ao Telefone). Como em um celular, o resto dos controles fica na tela sensível ao toque.

Talvez você tenha notado que a lista não inclui um “botão disparador” do obturador, porque a câmera não tem um desses. Em vez disso, você tira fotos pressionando um anel de plástico prateado em torno da lente, que se mexe ligeiramente e faz um clique.

E talvez você se pergunte, por quê? Simples: a câmera funciona igualmente bem de cabeça para baixo ou a 90 graus. Como um telefone, ela detecta a posição que você a está segurando e gira a imagem na tela de acordo. Graças a esse sistema de disparador em anel, você pode tirar fotos independentemente de como estiver segurando a câmera.

Os canhotos também vão apreciar esse mecanismo, pois os libera da tirania dos disparadores do lado direito. O lado negativo do anel é que é muito fino e fica ao lado do anel do zoom igualmente fino. Muitas vezes, você tira uma foto por acidente quando só está tentando usar o zoom.

O recurso de cabeça para baixo também suaviza as limitações da tela que se destaca, que tem uma dobradiça muito menos ambiciosa do que as de outras câmeras. Quando você segura a câmera para cima, a mobilidade da tela só ajuda a tirar fotos de objetos baixos (como “crianças e bichinhos”). Mas como você pode usar a câmera em qualquer orientação, a mobilidade da tela também o ajuda a tirar fotografias segurando a câmera por cima da cabeça ou até virando esquinas.

Entretanto, a tela nunca chega a estar de frente para você, então não pode ajudá-lo a tirar um autorretrato – uma verdadeira pena.

  • Na lateral do corpo da câmera, um botãozinho passa do modo automático para o modo criativo, que deveria ser chamado de modo Instagram


Há outras similaridades em relação aos celulares. Não há um carregador de bateria externo; você carrega a bateria na câmera, conectando um cabo USB ao seu computador ou ao adaptador para a tomada. A própria bateria parece uma AA quadrada; é minúscula. Segundo a Canon, ela permite que se tire cerca de 200 fotos cada vez que é carregada, o que é muito pouco.

Essa câmera usa o mesmo tipo de cartão de memória de muitos telefones celulares, micro-SD, em vez dos cartões SD usados na maior parte das câmeras. Isso é uma infelicidade, porque significa que você não pode copiar as fotos para seu computador simplesmente tirando o cartão da câmera e inserindo-o no laptop. Você terá que usar o cabo USB ou uma conexão sem fio.

Na lateral do corpo da câmera, um botãozinho passa do modo automático para o modo criativo, que deveria ser chamado de modo Instagram. Quando você pressiona o botão acionador –desculpe, o anel acionador – a câmera tira seis fotos em vez de uma. Ela aplica um filtro diferente a cada uma, do tipo criado pelo aplicativo popular. Ou seja, ela modifica cada uma com vários graus de ajuste de exposição, saturação, tintas e até recortes. Os resultados nunca são os mesmos, e algumas vezes são interessantes.

No modo automático, é só mirar e atirar, quase sem controles fotográficos. Com um toque no botão do menu, entretanto, você tem acesso ao modo de programa que permite que você faça ajustes manuais de exposição, equilíbrio de branco, ISO (sensibilidade à luz) e assim por diante.

Wi-Fi

A terceira característica incomum é o Wi-Fi, apesar de estar se tornando menos incomum a cada novo modelo. Na Canon N, você pode fazer três coisas com o Wi-Fi.


Primeiro, você pode enviar suas fotos das câmeras para o celular. Dali, você pode enviá-las para onde quiser. O programa exige que você instale um aplicativo de iPhone, iPad ou Android e conecte seu telefone com a câmera –esse é o propósito do botão “Connect” na lateral – que assim torna-se um hot spot de Wi-Fi. Quase instantaneamente, os ícones das suas fotos e vídeos aparecem no telefone. Para copiá-los da câmera é preciso dar dois toques, e você precisa transferi-los um de cada vez, não dá para selecionar vários e dizer “transfira esses”. Ainda assim, é ótimo ter esses retratos em seu celular, prontos para enviar.

Essa é a característica que torna a Canon N quase um acessório de telefone, quase uma lente externa.

Se a câmera estiver em um hot spot de Wi-Fi, ela também pode transferir diretamente as fotos para o Twitter, Facebook e assim por diante, sem precisar de um telefone. O processo é bastante complicado, mas uma vez estabelecido, é só tocar no ícone na tela do serviço que você quer postar.

Por fim, você pode enviar suas fotos da câmera para o computador por Wi-Fi em vez de usar um cabo ou transferir o cartão de memória. Para isso também, é necessário um processo bastante trabalhoso.

Apesar de seu sensor razoavelmente pequeno, a N tira fotos muito boas. Em muitos casos, muito melhores do que se tivesse tirado com uma câmera de telefone – afinal, essa é a ideia. Como você pode ver nas amostras que acompanham este artigo no nytimes.com/personaltech, a cor é maravilhosa e o autofoco funciona bem e rapidamente.

Os vídeos são especialmente impressionantes: estáveis, claros e mudam o foco rapidamente quando você muda a distância do objeto. Muito esperto: o botão para gravar está sempre na tela. Quando você quer gravar um vídeo, é só tocar. Não tem que mudar de modo ou ficar fuçando o menu.

Ao mesmo tempo, essa câmera de US$ 300 não é uma câmera de US$ 500. As áreas claras das fotos da N algumas vezes são estouradas e as fotos em baixa luminosidade podem sair granuladas.

A Canon N é uma ideia nova e inusitada – surpreendente vindo de uma empresa enorme e conservadora como a Canon. E funciona, tanto no conceito quanto na execução, tanto como câmera por si só quanto como companheira do celular.

Talvez não represente o futuro das câmeras de bolso. Mas se alguma coisa pode desacelerar a degradação da indústria da câmera de bolso, terá que ser algo audacioso e que pensa diferente.