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Maria-fumaça já era: "trem futurista" de Elon Musk chega a MG

Centro de Inovação do Hyperloop no Brasil - Divulgação - Divulgação
Um dos centros de inovação que vai desenvolver o trem da Hyperloop fica em Contagem (MG)
Imagem: Divulgação

Fabiana Uchinaka

Do UOL*, em Contagem (MG)

06/04/2018 12h42Atualizada em 06/04/2018 19h31

Um tubo gigante para transportar pessoas e cargas em cápsulas em uma velocidade gigantesca faz parte dos planos do bilionário Elon Musk, dono da Tesla (carros elétricos) e Space X (foguete), desde 2013. Mas nesta sexta-feira (4), a história ganha mais um capítulo. E o Brasil faz parte desse plano.

A Hyperloop Transportation Technologies (Hyperloop TT), uma das empresas que visa criar o sistema de transporte, anunciou que o Brasil abrigará seu primeiro centro global de inovação logística. O local escolhido foi Contagem, em Minas Gerais.

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Chamado XO Square, o centro surgiu após uma parceria público-privada e envolveu um investimento de US$ 7,85 milhões (cerca de R$ 26 milhões) nesta primeira fase. Do lado do governo mineiro, o acordo foi viabilizado com a doação de uma área de 22 mil m² de área construída.

Além disso, o governador de Minas, Fernando Pimentel, assinou ontem (5) um despacho destinando R$ 13 milhões para apoiar o centro de pesquisa em logística. 

Segundo a Hyperloop TT, fundada em 2013, a escolha de Minas para sediar o seu centro de pesquisa logística se deu pela cidade de Contagem por estar em uma das maiores regiões metropolitanas brasileiras e por abrigar várias empresas de tecnologia. O centro de pesquisas e desenvolvimento do Google no Brasil, inclusive, fica por lá.

A posição geográfica estratégica e a alta concentração de grandes indústrias também levam a crer que a distribuição de cargas (e a possível construção do tubão no Brasil) pode estar no radar da empresa. A companhia, porém, não fala disso oficialmente e tampouco fala em datas para isso acontecer.

Hyperloop - Divulgação/The Boring Company - Divulgação/The Boring Company
Viajando num túnel de vácuo, o "trem futurista" de Elon Musk será capaz de alcançar 1,200 km/h - velocidade suficiente para ir de São Paulo ao Rio de Janeiro em cerca de 20 minutos.
Imagem: Divulgação/The Boring Company

Outro fator que ajudou na decisão, segundo a empresa, foi que o custo de vida em Contagem é 26% menor do que São Paulo e Rio de Janeiro.

"Não estamos aqui por causa do pão de queijo, mas porque há abundância de pessoas talentosas e inovadoras", afirmou Bibop Gresta, presidente da empresa. 

“Minas Gerais e Contagem são um dos centros de distribuição de carga mais importantes [no Brasil]. Aqui em Minas Gerais, podemos dizer que é um trem, uai”, brincou o executivo, que fala um pouco de português. 

De acordo com o prefeito de Contagem, Alex de Freitas (PSDB), nos próximos três anos serão investidos mais de R$ 1 bilhão em mobilidade urbana.

Afinal, o que é esse tal de Hyperloop?

Em 2013, Musk “decidiu” que queria uma tecnologia de transporte de alta velocidade que funcionasse em tubos e chamou a ideia de Hyperloop. O objetivo é fazer com que esses tubos liguem cidades muito mais rápido do que um trem-bala, por exemplo. Outra característica da tecnologia é que ela causasse menos danos ao meio ambiente.

Na parte prática, Musk quer criar um tipo de cápsula que consiga transportar pessoas e até cargas em túneis fechados a vácuo. O meio de transporte seria descolado com a ajuda propulsão magnética e chegaria a uma velocidade de até 1.200 Km/h, suficiente para viajar de São Paulo ao Rio de Janeiro em cerca de 20 minutos, por exemplo.

As “regras” básicas do projeto foram descritas em um documento e Musk disponibilizou as informações para quem quisesse criar. Foi como se ele tivesse dito: “Tenho uma ideia revolucionária e quem quiser fazer parte dessa evolução torne isso realidade”.

Agora, você pode estar se perguntando: Se ele é tão rico, por que ele mesmo não cria o seu Hyperloop? A resposta é que ele preferiu se dedicar a suas outras empresas, a Tesla (que deseja criar carros sem a necessidade de motoristas) e a Space X (voltada para viagens espaciais).

Recentemente, Musk conseguiu autorização para escavar um terreno em Washington, onde deve ficar uma das estações de passageiros do Hyperloop. A ideia é fazer um túnel que ligue Washington a Nova York em até 29 minutos. Uma viagem de trem entre os locais dura hoje em média 3h.

O curioso é que, ao contrário dos projetos apresentados por Musk, que mostram imagens de veículos correndo por baixo da terra, o hyperloop previsto em Minas passaria por tubos suspensos, uma espécie de monotrilho. Será que será assim mesmo? Vamos aguardar.

Em Toulouse (França), as pesquisas focam o transporte de passageiros, que é relativamente simples. Aqui, o foco das pesquisas vai ser transporte de cargas, que é bem mais complexo.

“Não vou falar em rotas. Estamos estabelecendo nossa presença aqui. Falar qualquer coisa só cria especulação. Temos algumas parcerias em andamento, mas não vou falar em rotas”, ressaltou Greta sobre possíveis trajetos em que o Hyperloop pode funcionar.

Além da prefeitura, o centro de pesquisas em logística da Hyperloop TT em Contagem recebeu apoio do Governo Estadual, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).

Durante o evento para anunciar a parceria com o município, a Hyperloop TT também aproveitou para abrir no local a "Hyperloop Academy", que tem como objetivo estimular a inovação local e conectar empresas a 900 cientistas. 

Será que as pessoas vão passar mal?

Em seu documento informativo, a Hyperloop TT explica que com o uso da tecnologia de levitação magnética junto com a alta velocidade não causaria turbulência ou qualquer problema relacionado ao deslocamento da cápsula.

Além disso, o local teria o ar despressurizado – como já funciona em aviões– para equilibrar a pressão do ar e facilitar a nossa respiração. 

Segundo Gresta, a primeira cápsula para passageiros está sendo construída na Espanha.

Conforme o projeto de Musk, a empresa planeja desenvolver um sistema que não cause muitos danos ao meio ambiente e que o impacto seja "mínimo".

“Temos uma grande responsabilidade, não devemos reproduzir o passado, mas resolver seus problemas”, afirmou Gresta. “As revoluções industriais anteriores eram baseadas no consumo. Agora queremos criar um novo modelo, sem exploração. O insustentável não é mais aceitável”, acrescentou.

*A jornalista viajou a convite da Hyperloop TT