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Apple promove ''iPadização'' do computador com nova versão do Mac OS X Lion

DAVID POGUE || Do New York Times

21/07/2011 13h00

  • Reprodução

    Com o Lion, a Apple foi até onde pôde para levar recursos do iPad a computadores Mac

Deve ser torturante desenhar uma nova versão de um sistema operacional que já está maduro. Como você acrescenta suficientes novas atrações para os usuários sem atrapalhar o funcionamento geral do trabalho? E como você faz uma reforma suficiente para tornar o upgrade excitante sem alienar as pessoas que não gostam de mudanças?

No Mac OS X 10.7, conhecido como Lion, a Apple escolheu a estratégia de “sacudir as coisas” pelo antigo padrão da Apple: adotar o que é novo e progressivo e descartar sem piedade o que considera antiquado. Isso é ótimo se você ama as coisas novas e progressivas e não tão ótimo se você detesta que as pessoas mexam no seu queijo.

Até a forma de adquirir o Lion é radical; a partir desta quarta-feira (20), você poderá baixá-la da loja Mac App por US$ 30 (em torno de R$ 50). Você não pode comprá-la em uma caixa ou CD. É um download de 4 gigabytes. Se a sua conexão com a Internet for lenta demais, ou seu plano de Internet mensal restritivo demais, você pode baixá-la em uma loja física da Apple, ou comprá-la em um pen-drive no final de agosto. (E falando em verão ocupado: estou escrevendo um livro sobre o Mac OS X Lion).

Há alguns elementos muito atraentes no sistema de compra apenas por download. Não é preciso digitar um número de série. Não é preciso adquirir um plano para a família toda: seus US$ 30 cobrem tantos Macs quantos você tiver. Não há discos para guardar e caçar depois; se você precisar reinstalar, basta baixar novamente a versão mais recente. (O Lion exige um Mac pós-2006, com o Mac OS X Snow Leopard instalado).

''iPadização''

Pode-se dizer que o upgrade para Lion é todo sobre o iPad.

O que fez do iPad tamanho sucesso? Dois fatores, de fato. Fator 1: simplicidade. Não tem janelas que se sobrepõem; todos os aplicativos usam a tela toda. Não tem comando para salvar; tudo é automaticamente salvo. Não tem arquivos ou pastas. Não tem menus. Todos os seus aplicativos estão em um lugar, na tela Home.

Fator 2: a tela sensível. Você troca de ambiente passando a mão no vidro, amplia beliscando, e roda girando os dedos.

No Lion, a Apple foi até onde pôde para levar esses fatores ao Mac.

O modo de tela cheia faz o programa encher a tela, de ponta a ponta, sem barras para puxar, menus ou outros ruídos. É refrescante e útil, especialmente em laptops, porque a tela parece muito maior.

A gravação automática poupa o usuário de ter que se lembrar de apertar o “Salvar” enquanto trabalha. Novos comandos na barra de título podem passar seu documento para um estágio anterior, trancá-lo em uma versão ou gerar uma cópia para você levá-la em outra direção.

Há até um novo programa, o Launchpad, que é um clone da tela Home do iPad, com ícones de aplicativos espalhados uniformemente, com páginas cambiáveis, que se abrem com um clique.

E o segundo fator, o da tela sensível?

Computadores com telas sensíveis ao toque não funcionam. Pronto, falei. Passar o dia com o braço esticado, manipulando minúsculos controles em uma superfície vertical é desajeitado e exaustivo. A dor que você sente depois não é afetuosamente chamada de Braço de Gorila.

A Apple montou o que considera uma solução melhor, uma superfície horizontal de toques múltiplos. É o “trackpad” de seus laptops, a superfície superior de seu atual mouse.

No Lion, pode-se usar todos os tipos de gestos do iPad. Beliscar quatro dedos para abrir o Launchpad. Torcer dois dedos para girar. Arrastar três dedos para abrir o Controle da Missão, uma constelação clara de ícones que mostram todos os programas e janelas abertos. E assim por diante.

Advertência: no Lion, você sobe a página arrastando dois dedos para cima, como no iPad. Faz sentido; afinal, você leva a tela para esquerda arrastando para a esquerda, e para a direita para ir para direita. Mas leva um dia ou dois para parar de rolar na direção errada, como viemos fazendo por décadas.

Prós e contras

Então a iPadização do Mac foi boa? Há boas notícias, más notícias e depois outras boas notícias.

A boa notícia é que, quando você aprende tudo isso, de fato funciona. Basta arrastar três dedos para o lado e você sai de um aplicativo de tela cheia para outro, de forma animada, como se alguém estivesse lançando cartas de tela cheia. O Lauchpad seria melhor para os avessos à tecnologia se estivesse sempre ali esperando, no lugar de um programa que você tem que abrir manualmente toda vez; de outra forma, contudo, o Lion é fluido e satisfatório.

A má notícia é que grande parte da promessa da Apple é incipiente. Características como o modo de tela cheia, gravação automática e gestos de rodar e ampliar em geral funcionam apenas nos programas da Apple. Os aplicativos de outras empresas, como Word e Photoshop, têm que ser atualizados para incorporarem essas novas características.

E as boas notícias finais são que você pode ignorar tudo isso. Se você prefere o status quo, não é obrigado a jamais colocar um aplicativo em modo de tela cheia, ou usar um gesto, ou abrir aplicativos do Launchpad. Você pode até desligar aquela coisa de rolar na direção reversa. Desta vez, pelo menos, a Apple não está ditando a forma como você tem que fazer as coisas.

Enquanto isso, você ainda recebe dezenas de outros ajustes por seus 30 contos. Alguns maravilhosos.

A janela de AirDrop, por exemplo, mostra ícones de Macs próximos usando Lion. Você pode transferir um arquivo simplesmente arrastando-o para o ícone do Mac apropriado. Você não ter que lidar com permissões ou instalação de compartilhamento – só um botão de OK e está feito.

Muitos aplicativos foram redesenhados para ter um visual melhor, ou ao menos mais parecido com o iPad, ou para explorar o modo de tela cheia. Alguns como o Mail, exibem avanços realmente bem pensados, como os marcadores que podem substituir a lista de pastas que ocupa tanto espaço. Outros, como iCal e Address Book, escondem elementos importantes, como a lista de categorias de calendário ou grupos de endereços, por nenhuma razão. É preciso dar crédito ao iCal, porém, por saber como decifrar anotações como “Cris almoço sex 14h”.

Mais atrações na parada: se você arrastar uma pasta para outra com o mesmo nome, o Mac oferece para fundir seus conteúdos. Agora é possível mudar o tamanho das janelas arrastando qualquer lateral. O Preview permite que você acrescente sua assinatura a um documento de PDF rápida e facilmente – uma assinatura que você grava com uma simples apresentação para a câmera do Mac.

O Resume permite que você reabra todos os programas e janelas da forma que estavam quando você desligou o computador. O programa Migration pode trazer todos os seus arquivos, endereços, calendários, contas de e-mail e fotos do Picasa de um PC com Windows e colocá-los no lugar correto dentro do Mac.

Ordinariamente, US$ 30 seria um ótimo preço para essa enorme lista de refinamentos. Mas há boas razões para não correr diretamente para a boca do Leão.

O que a Apple dá, a Apple tira. Desta vez, tirou o Rosetta, um kit que permitia que programas antigos rodassem nos chips da Intel que a Apple começou a usar em 2006. Poucos programas não funcionam sem ele, um deles, que horror, o Quicken. E não há solução à vista, além de mudar para um programa diferente de finanças, como o chato Quicken Essentials ou o menos conhecido iBank.

Observe também que há algumas falhas neste filhote de leão recém nascido. Eu tive erros no programa Resume, MobileMe, barras de menu, várias funções do Mail e, em um dia muito especial, os programas demoraram enormemente para abrir. A Apple atribui a maior parte desses problemas a um problema raro de loop do iCal, único do meu laptop, que diz que será consertado em uma atualização.

O upgrade do Lion, em outras palavras, é um clássico da Apple: inovador para alguns, uma bobagem para outros, com grandes saltos adiante e alguns tropeços. Talvez nunca venha a ser o rei da floresta. Mas uma vez que as empresas de software do mundo tiverem adaptado seus programas, e uma vez que a Apple exterminar os problemas, o Mac OS X 10.7 talvez seja algo ainda mais exótico: um sistema operacional totalmente moderno, rápido, poderoso, atraente e livre de vírus.