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Cartão de crédito virtual do Google ainda é cru, mas pode substituir o de plástico

DAVID POGUE || Do New York Times

22/09/2011 12h23

Muitas empresas adorariam botar suas mãos em nossas carteiras. Mas o Google deseja ir um passo além: ele deseja estar em nossas carteiras. Seu novo programa para telefone, chamado Google Wallet, visa substituir os cartões de crédito em nossas carteiras de fato.

Soa espetacular, não é? Sem necessidade de ficar procurando pelo cartão de plástico na carteira, sem necessidade de recibos de papel, sem assinaturas. Tudo tratado de modo seguro, instantâneo, conveniente, com um toque em seu telefone na caixa registradora.

Europeus e asiáticos já pagam rotineiramente pelas coisas dessa forma. Por que não podemos ter isso nos Estados Unidos?

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    "O Wallet será a pedra fundamental de um imenso ecossistema econômico de bancos e lojas"

Agora podemos. Mas há notas de rodapé suficientes para encher uma edição de uma revista de podologia.

No momento, o aplicativo gratuito Google Wallet roda apenas em um único modelo de celular: o Google Nexus S da Sprint, que funciona com o programa Android do Google. Isso porque o Google Wallet exige um chip NFC (“near-field communications”, comunicação por proximidade) e o Nexus S é um dos poucos telefones equipados com ele.

Algum dia, diz o Google, muito mais telefones terão chips NFC. A empresa diz que está em negociação com todos os grandes fabricantes de telefones Android.

A próxima pergunta: onde você pode usar o Wallet para pagar pelas coisas? O Google teve a ideia inspirada de se associar à MasterCard, que já conta com 150 mil leitores de NFC instalados nos Estados Unidos e 230 mil no exterior. É possível ver os terminais MasterCard PayPass pretos por toda parte.

Isso significa 150 mil empresas; o número total de lojas físicas é muito maior. No momento, elas incluem CVS, Duane Reade, Radio Shack, Sunoco, Sports Authority, Foot Locker e os táxis de Nova York. Nas próximas semanas, diz o Google, mais lojas ingressarão, incluindo Subway, Macy’s, Walgreens e Bloomingdale’s.

Algum dia, diz o Google, os leitores estarão instalados nas caixas registradoras por toda esta grande terra.

Pense no Wallet como uma cópia de seu cartão de crédito de fato. Nas situações em que você passaria seu cartão de crédito, você poderia apertar seu celular. No momento, entretanto, o único cartão de crédito que o Wallet pode personificar é o Citibank MasterCard.

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    Por enquanto, o Wallet só está disponível a um modelo de smartphone: Samsung Nexus S

Algum dia, diz o Google, todos os tipos de cartões de crédito de todos os bancos funcionarão com o Wallet.

Se você não tiver um Citibank MasterCard, ainda assim você pode usar o Wallet. Na tela onde você seleciona o cartão de crédito que deseja usar, você encontrará um imaginário chamado Google Prepaid Card (cartão pré-pago Google). Ele vem como US$ 10 de crédito –um presente do Google para você, ó adotante inicial– mas pelo telefone, você pode carregá-lo com mais dinheiro de outro cartão de crédito.

Certo. Então você está em um CVS ou 7-Eleven, e o caixa anuncia o total, “US$ 31,24”. Naquele momento exato em que você normalmente passaria seu cartão de crédito, você simplesmente liga o telefone. (Você não precisa inicializar o aplicativo Wallet primeiro.) Você o segura diante do terminal PayPass e digita sua senha de quatro dígitos. A tela diz “Enviado” e a tela do terminal diz “Autorizando... Aprovado... Saldo, US$ 0. Obrigado!”

A segurança, diz o Google, está integrada no sistema. O chip NFC do telefone fica completamente desativado quando a tela está desligada. Isso para impedir que pessoas malignas furtivas espiem as informações do seu cartão de crédito.

É uma pena, realmente. O Google diz que o chip NFC poderia funcionar mesmo com o telefone desligado, o que significa que você poderia continuar o utilizando para comprar coisas. Mas o Google optou por reforçar a segurança em vez da conveniência; como resultado, o telefone é inútil como cartão de crédito quando acaba a bateria.

A exigência de senha visa impedir que as pessoas comprem coisas com seu telefone caso você o perca ou ele seja roubado, já que eles não saberão o código. (E se você errar o código cinco vezes consecutivas, todo o Wallet se torna inutilizável. Você precisa contatar o Google e se explicar.)

É claro, a senha de quatro dígitos também tira grande parte da diversão e conveniência do conceito telefone como carteira. Digitar a senha nas pequenas teclas da tela de toque, que nem sempre respondem bem, é incômodo e não mais rápido do que assinar o comprovante do cartão de crédito comum. Por que não podemos desativar a exigência de acordo com nossos próprios níveis de paranoia?

Você não pode nem mesmo escolher senhas fáceis de digitar para evitar esforço. O Wallet não aceita códigos como 1234 ou 1111.

(Além disso, a defesa do telefone roubado não convence muito. Acredite: se você perder seu telefone, você saberá. Você ligará para o atendimento ao cliente do banco para congelar sua conta antes que possa dizer “estou com dor de estômago”.)

Assim, se o Wallet não é muito mais conveniente do que passar o cartão de crédito, qual o sentido?

O Google tem uma resposta para isso: SingleTap (toque único).

Essa é a próxima geração de participação do comerciante. Nos estabelecimentos SingleTap, o Wallet é mais do que um dublê de cartão de crédito. Ele também armazena cupons digitais, pontos de fidelidade e ofertas especiais do tipo Groupon. (A imitação descarada do Groupon pelo Google, chamada Google Offers, está automaticamente ligada ao Google Wallet. As ofertas estão disponíveis em apenas algumas poucas cidades no momento.)

Quando você aperta a tela de seu telefone na caixa registradora, você simultaneamente paga sua compra e recebe os descontos prometidos e/ou resgata os pontos de fidelidade. Um toque em vez de lidar com quatro cartões.

No momento, poucas redes oferecem o SingleTap; entre elas estão American Eagle, Jamba Juice, OfficeMax e Toys R Us. (Em outras lojas, você ainda pode usar seu Google Offers –mas é preciso mostrar o código em seu telefone no caixa, em vez de informá-lo eletronicamente.)

Algum dia, diz o Google, o SingleTap estará em toda parte. Ele diz que 30 empresas já se comprometeram a adicionar esta função, apesar das atualizações necessárias em hardware e software nas caixas registradoras levarem algum tempo.

O Wallet será muito mais do que um cartão de crédito glorificado. Ele será a pedra fundamental de um imenso ecossistema econômico de bancos, lojas, anunciantes e outras empresas. Ele substituirá tudo em sua carteira: ingressos, passagens, cartões de trânsito. Tudo eletrônico, tudo seguro, tudo sem fio e fácil.

Algum dia, diz o Google, você poderá caminhar pelos corredores da Best Buy e seu telefone saberá onde você está na loja. Ele saberá que você está na seção de TV. Uma oferta aparecerá em seu telefone, como um desconto de US$ 600 em certo televisor Panasonic caso você o compre nos próximos 30 minutos. Você passará pelo caixa no local, comprará aquela TV e curtirá a economia.

Por ora, o Google reconhece que o Wallet é apenas uma versão crua, Neanderthal, 1.0. Ele funciona em apenas um telefone, de uma única empresa, com um único cartão de crédito, em um pequeno número de lojas onde você pode querer pagar pelas coisas. “Nós pedimos que você entenda que esta é uma longa estrada”, diz um gerente de produto. “Nós temos que dar os primeiros passos para torná-lo realidade.”

O Google não diz que esta é uma versão “beta” (de teste) do Wallet, como adora fazer com outros serviços, mesmo anos após seu lançamento. Mas deveria. Usar o Wallet geralmente é agradável e rápido, mas em várias ocasiões, eu digitava minha senha e ficava parado lá estupidamente, atrasando a fila atrás de mim, enquanto a tela dizia: “Abrindo Google Wallet”, zumbindo incessantemente. Apenas apertando Cancelar e tentando de novo eu consegui prosseguir.

Mas seria ótimo se todos aqueles desejos “algum dia, diz o Google” se tornarem realidade. Seria ótimo carregar uma carteira mais fina, esquecer os recibos em papel e cupons, ter um rastro de papel seguro de cada compra, economizar dinheiro ao incorporar mais ofertas às compras diárias.

Até lá, para aqueles poucos felizardos que têm um Sprint, que compraram os telefones Nexus S, que compram em algumas das lojas seletas, que têm um Citibank MasterCard, o Wallet é um vislumbre limpo, bem projetado, de um ótimo algum dia de pagamentos cotidianos.

George El Khouri Andolfato