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Spotify "liberta a música online" com acesso a 15 milhões de canções -- e legalmente

Página do serviço de música online Spotify durante a abertura do serviço para os EUA - AP
Página do serviço de música online Spotify durante a abertura do serviço para os EUA Imagem: AP

DAVID POGUE || Do New York Times

29/09/2011 08h56

Todo mundo parece pensar que os executivos de gravadoras são grandes idiotas gananciosos. “Como vocês ousam cobrar por música?” gritam os universitários. “A música deseja ser livre!”

Bem, os executivos de gravadoras podem ser, de fato, grandes idiotas gananciosos. Mas ao longo dos anos, pouco a pouco, eles vêm tentando tornar a venda de música online mais justa e mais conveniente.

Hoje, os serviços de música pela internet estão espalhados por toda uma matriz de preço/conveniência/permanência. Alguns oferecem música gratuita e legal, mas você não pode escolher exatamente quais são as canções que ouvirá (Pandora.com). Alguns permitem que você baixe arquivos de música para serem seus para sempre por entre US$ 0,79 e US$ 1,30 cada (iTunes e Amazon.com). Alguns permitem o aluguel de música – isto é, ouvir tudo o que você quiser por uma taxa mensal, mas você fica sem nada quando parar de pagar (rdio.com, Napster.com, Rhapsody.com).

E alguns serviços são ilegais.

Neste mês, entretanto, o mundo deu um grande passo na direção do cálice sagrado: gratuito, legal, com canções específicas e conveniente. Após anos arrancando seu cabelo corporativo em tufos enquanto negociava com as gravadoras, o Spotify finalmente trouxe seu serviço para os Estados Unidos.

Se isso não significa nada para você, então você claramente está fora de contato com os europeus. Por três anos, eles estão apaixonados pelo Spotify. Ele é um programa bonito, bem acabado, tipo iTunes, que oferece acesso a 15 milhões de canções – segundo o Spotify, um catálogo maior do que os do Napster, Rhapsody, MOG ou Rdio (mas há uma nota de rodapé –veja abaixo). Todas as grandes gravadoras participaram desse experimento maluco: Sony, Warner, Universal e EMI. (As bandas habituais “nós temos medo da Internet” estão ausentes, como Beatles, Metallica e Led Zeppelin.)

A qualidade de som é excelente. (É no formato Ogg Vorbis de 160 Kbps, se isso significa algo para você.) A música começa a tocar quase instantaneamente. Com um clique, você pode compartilhar playlists com amigos no Twitter ou Facebook, ou ver o que estão escutando mais. Todo um ecossistema de sites brotou onde as pessoas podem compartilhar, avaliar e recomendar música e playlists.

E há uma atração ainda maior. Vejamos... o que era mesmo? Ah, sim –é gratuito.

É verdade. Pela primeira vez na história da Internet, você agora pode ouvir qualquer faixa, qualquer álbum, já, legalmente, sem cobrança. Não é de estranhar que levou algum tempo para persuadir as gravadoras.

Tudo tem um preço

Mas há algumas restrições. A maior são as propagandas: por dois minutos a cada hora, você ouve anúncios divididos entre suas canções (geralmente para os planos premium do Spotify, que descreverei em um momento). E você vê anúncios em seu programa do Spotify. Se você assinar agora, você poderá ouvir toda música que quiser pelos próximos seis meses –mas depois disso, você terá um limite de 10 horas de música gratuita por mês.

A nota de rodapé final da fantasia da música gratuita é esta: você precisa de convite para ingressar. Isto, obviamente, é um quebra-molas que visa impedir o colapso dos computadores do Spotify com a chegada simultânea de 300 milhões de americanos ansiosos.

Mobilidade

  • Jeff Chiu/AP Photo

    O aplicativo móvel (para iPhone, Android, Windows 7, Symbian ou Palm) pode executar o Spotify no seu telefone – no carro, no trabalho, enquanto corre

Você pode requisitar um convite no site Spotify.com, ou você pode receber um de alguém que tem algum dos planos pagos. Várias empresas patrocinadoras distribuirão convites para o serviço gratuito. (Coca-Cola, Motorola e Reebok, por exemplo.)

Mesmo assim, para milhões de pessoas, isso ainda é uma oferta melhor do que qualquer outra feita antes. Gostou de alguma canção nova no rádio? Vá para casa e escute todo o álbum, ou todo o catálogo daquela banda. Cansado daquele amigo descolado no Facebook falando sobre a banda do momento e deixando você por fora? Entre no Spotify e escute o playlist dele. Pensando em assistir a um musical? Escute o álbum do elenco primeiro.

Para aqueles que não gostam de gastar, este modo fácil e gratuito de acessar qualquer canção, instantaneamente, é uma nova opção de entretenimento.

Ainda melhor, o programa do Spotify em seu Mac ou PC reconhece automaticamente e exibe sua coleção de música existente armazenada no iTunes ou no Windows Media Player –até mesmo seus playlists. Você pode administrar suas próprias canções, incorporá-las nos playlists, juntamente com os milhões de faixas oferecidas pelo Spotify. Ele não tem tantas funções (ou não é tão entulhado) como o iTunes, mas o essencial está aqui: você pode realizar busca, selecionar, organizar e receber recomendações de música.

Na Europa, 84% dos 10 milhões de ouvintes do Spotify o fazem gratuitamente, tolerando aquelas propagandas ocasionais. Mas é fácil imaginar que há algumas pessoas que dirão: “Eu pagaria alegremente, digamos, US$ 5 por mês para me livrar daquelas propagandas, do limite de 10 horas e da lista de espera de convite!”

Este é o motivo para o Spotify oferecer um plano de US$ 5 por mês, sem propagandas, sem limites, sem convite (chamado Ilimitado).

E certamente haverá outro grupo de fãs de música que diria: “Isso é ótimo, mas eu pagaria ainda mais se pudesse ouvir no meu telefone. Preferivelmente mesmo quando estiver off-line, como em um avião ou metrô”.

Este é o motivo para o Spotify oferecer um plano de US$ 10 por mês, sem propagandas, sem limites, sem convite, sincronizado com seu telefone, permitindo download (chamado Premium).

Com o plano Premium, você pode baixar música para até três computadores ou telefones, pronta para tocar mesmo quando você não tiver conexão de Internet –até 3.333 vezes de cada vez. (Sim, 3.333. As gravadoras funcionam de modos estranhos e misteriosos.) Também com o Premium, algumas faixas estão disponíveis em um formato de qualidade ainda melhor (320 kbps).

No celular

O aplicativo móvel (para iPhone, Android, Windows 7, Symbian ou Palm) pode executar o Spotify no seu telefone – no carro, no trabalho, enquanto você está correndo, qualquer coisa. A música flui por uma conexão de celular 3G ou por conexão Wi-Fi. (Use o Wi-Fi se você tiver; o Spotify comerá sua cota mensal de dados em um instante.)

Se o Spotify tivesse uma caixa de sugestões, ela não ficaria completamente vazia. É ótimo que os membros Premium possam enviar música para o telefone para ouvir off-line (mesmo sem fio, pelo Wi-Fi), mas você só pode fazer isso por playlist, não por canção ou álbum. Há uma boa variedade de música clássica, mas, como de costume com os serviços de música online, não é sempre fácil de pesquisar e não há opção de “tocar sem intervalo” entre os movimentos.

Apenas o Spotify oferece um plano gratuito. Mas assim que você paga US$ 5 ou US$ 10 por mês, rivais como Napster, MOG ou Rdio oferecem pacotes semelhantes e funções às vezes superiores. E a maioria permite que você ouça pela Internet, em qualquer computador; o Spotify exige que você primeiro instale seu player gratuito.

Além disso, o Spotify argumenta que seu catálogo de canções é maior do que o dos seus concorrentes –mas o Napster afirma que as “15 milhões de faixas” do Spotify é seu total global, e apenas um grupo menor está disponível em cada país. Nos Estados Unidos, o Napster diz que seu catálogo é na verdade maior. (O Spotify ficou estranhamente não comunicativo quando tentei esclarecer esse assunto.)

Agora, todos os serviços por assinatura apresentam certas vantagens. Você nunca precisa perder tempo com prévias de 30 segundos das canções, ou pagar um adicional pelas canções mais populares, ou encher a memória do seu telefone com arquivos enormes de canções. E como não há um preço por canção, você desfruta de uma liberdade de exploração que é muito mais difícil de conseguir quando você compra canções uma de cada vez.

O lado ruim tradicional dos serviços por assinatura, entretanto, é que você está apenas alugando música, não comprando. Quando você para de pagar sua taxa mensal, você fica sem nada.

O verdadeiro avanço do Spotify, portanto, é que ele faz esse “te peguei” desaparecer. Você tem todas as vantagens de um serviço por assinatura, mas não se sentirá um idiota quando largar o serviço (ou quando os termos mudarem, como já aconteceu). Afinal, você não pagou nada por todos aqueles meses ou anos de desfrute musical.

Quase todo mundo espera que o Spotify fará sucesso. Se o Spotify, gravadoras e músicos conseguirem ganhar dinheiro da maneira do Spotify, mais poder para eles. Quem sabe? Pode ser que as gravadoras não sejam grandes idiotas gananciosas afinal.