Quando a Apple apresentou o vídeo demonstrativo e a versão para desenvolvedores de seu novo sistema operacional, o Mac OX Lion, não consegui conter a ansiedade. Eu só não sabia que a mudança seria tão radical e que iria me levar do céu ao inferno em apenas uma semana. O Mac OS 10.7, apenas para computadores, agradou pela beleza e novos recursos, mas transformou grande parte das minhas tarefas cotidianas em desafios. Acompanhe a seguir o relato de quem vive uma relação de amor e ódio com o novo sistema operacional da Apple e conta os dias para uma atualização que corrija os principais bugs.
Recursos gráficos são belos e práticos, mas alguns usuários relatam lentidão e instabilidade
Desde o anúncio do lançamento da novidade, feito por Steve Jobs no início de junho, aguardei ansiosamente a distribuição prometida para o mês de julho. Pra variar, a data exata em que isso iria acontecer -- como quase tudo da Apple -- era um mistério. A atualização chegou no dia 20 do mês prometido e, como anunciado, a única forma de ter acesso ao sistema era fazendo o download por meio da loja de aplicativos virtuais (ele ainda não é distribuído por mídia física). O download de 3.5 gigabytes foi um tanto demorado e relatos de usuários no Twitter mostraram que o problema não era uma exclusividade do Brasil. Baixar todo o programa deveria ser uma tarefa de no máximo três horas para minha conexão, mas demorou sete. “Apple, libera banda aí, meu. Não é você que pretende lançar o iCloud, todinho baseado na nuvem, em poucos dias?”, pensei.
Quando o download finalmente terminou, a instalação ocorreu quase que instantaneamente e sem problemas. Uma hora depois, o leão apareceu na minha tela. Mágico: todos os meus arquivos estavam lá, nas mesmas pastas, e eu não tive problema nenhum quanto à configuração de rede. Logo de início, porém, a primeira mudança brusca: os movimentos do touchpad estavam invertidos. Relatos de desenvolveres já apontavam o novo recurso, mas nada como sentir na pele – ou na tela. Levou um tempo para acostumar. Aliás, ainda estou me acostumando... Felizmente, a opção é reversível.
Mudanças sutis no layout deixam o sistema com cara de novo. O AirDrop, função que permite trocar arquivos entre computadores Mac sem ter de configurar a rede, é extremamente funcional e prática. O Mission Control, que mostra todos os aplicativos em funcionamento de forma simples e organizada, talvez seja a melhor atualização. O Launchpad, que lista todos os aplicativos com uma interface quase idêntica à do iPad é linda, mas não consegui ver uma utilidade imprescindível.
Surpresas boas: o sistema de e-mails e a possibilidade de abrir todos os aplicativos exatamente na última tela em que os visualizei são realmente sensacionais. Abrir minhas páginas favoritas no Safari e visualizá-las em tela cheia, controlando tudo no touchpad, também me deixou empolgado (afinal, a experiência de leitura é quase a de um iPad).
Inferno Astral
Eu estava contente por ter feito a migração. Aparentemente o sistema era estável com todos os produtos da Apple, mas o problema surge justamente aí. As novidades funcionam muito bem com os softwares produzidos pela maçã, mas criam uma dor de cabeça enorme para os outros desenvolvedores. Consigo listar aqui pelo menos seis aplicativos que ficaram totalmente instáveis com o Lion: Skype, Camtasia, OnyX, Chrome, Premiere Pro e Flash Player; todos eles essenciais no meu dia a dia.
Fazer ligações de mais de dez minutos no Skype se tornou um desafio e tanto. O programa não consegue estabilidade por mais de seis ou sete minutos e termina inesperadamente. O Chrome é outro que fecha sozinho e sem motivo aparente (o problema já existia na versão anterior do sistema operacional, mas era muito mais raro). Trabalhar com vídeo também é um desafio e tanto: o Camtasia não consegue mais capturar a imagem da tela normalmente, e o Premiere dá todas as incompatibilidades possíveis ao tentar importar arquivos de vídeo para dentro do projeto. Com um deadline super apertado, tive que apelar para o bom e velho PC (salvador da pátria, nesse caso) para conseguir entregar um trabalho a tempo.
Superaquecimento e lentidão
Os relatos de lentidão e superaquecimento do hardware, após instalação do Lion, não foram exclusividades minhas. Pessoas próximas disseram ter tido a velocidade do sistema e dos aplicativos diminuídas consideravelmente. Inúmeros fóruns de gamers dizem que jogar no Lion é praticamente impossível, tamanha a lentidão do sistema (a comunidade mais furiosa é o do World of Warcraft).
Os mesmos fóruns que hospedam as discussões intermináveis sobre os contratempos do Lion apresentam algumas soluções temporárias. Mas, se você não é um especialista, programador e não “entende lhufas” das especificações técnicas, é melhor aguardar a atualização oficial da Apple – na esperança, é claro, de que os bugs sejam corrigidos.
Atualização
A quem está pensando em atualizar e gastar cerca de R$ 50 no sistema operacional, um conselho: espere a versão 10.7.1, que deve sair em breve. O Lion encanta em alguns aspectos, mas decepciona no geral. São tantos ajustes a serem feitos, que é de se espantar o fato de a Apple já ter liberado o sistema para o download.
Sei que todo sistema operacional leva um bom tempo até atingir a maturação, mas, de acordo com números oficiais, a empresa distribuiu um milhão de cópias apenas nas 24 primeiras horas de venda. Isso quer dizer que existem pelo menos 1 milhão de usuários com um sistema instável e incompatível com grande parte dos aplicativos do mercado.
Por sorte, os desenvolvedores mais antenados já divulgaram atualizações que corrigem os bugs em seus respectivos aplicativos. Eles também têm de fazer sua parte, mas a Apple poderia ter sido mais “legalzinha” e lançado um sistema com uma compatibilidade um pouco maior com o Snow Leopard, a versão anterior. Nesse caso, o leopardo ainda deixa o leão pequenininho.
