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14/03/2006 - 09h32

Periferia da CeBit se acotovela para mostrar alta tecnologia

Marcilio Kimura
enviado especial a Hannover
A CeBit é famosa por congregar as mais ricas empresas de tecnologia do mundo, que investem horrores em estandes megalomaníacos, souvenires para centenas de milhares de visitantes, sorteio de produtos "cutting-edge", bebida e comida para dezenas de milhares de empresários e jornalistas, shows, luzes, modelos e personalidades e toda estratégia de publicidade e marketing imagináveis, além dos próprios produtos inovadores.

Mas as beiradas de todos os 27 pavilhões (cada um é pouco menor do que o Anhembi, o principal local de eventos de São Paulo) são ocupadas por "pequenas" empresas, cuja seqüência de estandes mais parece um promocenter da vida (shopping popular que vende muitos produtos piratas, onde a Polícia Federal vez ou outra faz uma batida e leva toneladas de mercadorias, também na capital paulista).

Alguns países são representados dessa maneira e por só uma empresa, segundo a organização do evento, como Armênia, Croácia, Filipinas, Ilhas Faroe, Jordânia, Mônaco e Sri Lanka. Outros unem suas empresas para alugar um espaço maior, como Arábia Saudita, Austrália, Bangladesh, Brasil (sem contar, por exemplo, a Itautec, que tem um estande respeitável), Chile, Egito, Grécia, Kazaquistão, Paquistão, Uzbequistão... Enfim, são 71 nações no total.

Muitas vezes são cubículos em que mal cabem os funcionários e seus produtos. Mas é só se aproximar que as semelhanças começam a se diluir. Eles são diretores de empresas que movimentam até centenas de milhões de dólares ao ano e negociam produtos de altíssima tecnologia, que não ficam muito longe dos de empresas bilionárias.

AFP
9.mar.06/AFP
Origami tem tela sensível ao toque
O Origami, por exemplo, que foi a grande vedete da feira (mesmo sendo praticamente um protótipo), encontra similares nesses "nanicos" de China, Coréia do Sul ou Taiwan, pela metade do preço. O maior fenômeno tecnológico de vendas nos últimos anos, o iPod, encontra rivais a altura, também muito mais baratos, como informou Juliana Carpanez, da Folha Online. O mesmo se reflete a softwares de convergência digital, celulares, câmeras e filmadoras, TI, biometria, RFID e por aí vai.

Mas estar no "promocenter" da CeBit não vale só pela proximidade com os grandes rivais ou futuros parceiros, é um status.

"O mercado tecnológico se divide entre os que estão na CeBit e os que não", diz Oivind Larsen, um austríaco com empresa radicada no Paquistão e que ocupa cerca de 9 metros quadrados com seus produtos de biometria e outros dois funcionários.

"O meu diferencial é a customização. Ofereço produto de acordo com a exigência do cliente." "Ah, você é do Brasil? Agora há pouco, uns brasileiros passaram aqui. Acho que são de uma tal de Petrobrás. Conhece?", comenta Larsen.

"Cada tostão que a gente consegue investir aqui tem retorno", garante Bobby Castillo, gerente de vendas da Integrated Microelectronics, das Filipinas, que participa do evento alemão há quatro anos, principalmente com semicondutores e diz faturar US$ 350 milhões anuais.

O metro quadrado na feira gira em torno de 250 euros (sem contar o restante da infra-estrutura), o que não é nada para a Samsung, a maior expositora em Hannover, com cinco estandes e mais de 1.000 metros quadrados no total.

O motivo de o sudeste asiático viver novo boom não é só a mão-de-obra barata, mas a capacidade de trabalho. "Sou especialista em hardware, mas nunca vi povo com habilidade matemática para software como os asiáticos", explica Larsen.

"Lá, consigo montar uma equipe de três engenheiros de ponta com US$ 1.000, bem menos do que gastaria com um só funcionário na Europa", complementa ele, que tem escritórios em outros seis países e diz ter comprado na semana passada um tablet multimídia no Paquistão por US$ 180.

Já a Arábia Saudita é representada por empresas em busca de know-how e investimentos. No maior produtor mundial de petróleo, a informática está apenas engatinhando.

"Estamos procurando soluções para montar nosso próprio padrão, por isso não servem os pacotes fechados de TI das grandes multinacionais. Hoje, agendamos reuniões com ucranianos e argentinos. Nosso modelo é o da Malásia, país também muçulmano que atraiu diversas empresas de ponta e convive com um padrão próprio de gerenciamento tecnológico", afirma Anas Shehab, diretor executivo da IV (Integrated Visions).

Segundo ele, vários hotéis e aeroportos nas principais cidades sauditas já operam com sistemas inteligentes de gestão. Mas o potencial de crescimento é grandioso, já que, no caso do usuário final, apenas 15% da população tem acesso à Internet, sendo que só 20% desses contam com banda larga.

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