UOL Notícias Tecnologia

29/07/2010 - 07h00 / Atualizada 29/07/2010 - 15h42

Saiba como prevenir e combater o ciberbullying

FERNANDA CALGARO||Para o UOL Tecnologia
De Londres

O anonimato, o acesso fácil às tecnologias e o impacto na internet de um vídeo ou uma foto tornam o ciberbullying ainda mais grave que o bullying "tradicional", segundo a avaliação de especialistas. E para que as vítimas, os pais e os professores saibam como lidar com o problema – ao menos num primeiro momento –, o UOL Tecnologia preparou algumas dicas (veja no final desta reportagem). 

  • Fernanda Calgaro/UOL

    "No ambiente virtual a vítima pode ser perseguida 24 horas por dia, recebendo mensagens no celular ou no seu perfil numa rede social", diz Piggin, da Beatbullying

"O ciberbullying permite que o agressor tenha tempo de planejar, refletir, criar e sofisticar a ‘arma’ que irá disparar. No verbal ‘in loco’, o sujeito não dispõe de tanto tempo para elaborar a estratégia agressiva", explica a psicanalista Vera Zimmerman, doutora em psicologia clínica e coordenadora do Cria (Centro de Referência da Infância e Adolescente), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). De acordo com ela, o ciberbullying aumenta a sensação de impotência e de injustiça, assim como a incapacidade de o agredido se defender.

Richard Piggin, um dos diretores da ONG britânica Beatbullying, referência no assunto, concorda. "Ao contrário do bullying, em que o adolescente chega em casa e se sente seguro, no ambiente virtual a vítima pode ser perseguida 24 horas por dia, recebendo mensagens no celular ou no seu perfil numa rede social, por exemplo."

As razões que levam alguém a praticar o ciberbullying variam, mas normalmente estão relacionadas a uma insegurança do agressor, que pretende ser aceito num grupo ou ganhar mais popularidade. "Há casos também de adolescentes que sofrem com o bullying e, para descontar, fazem as suas próprias vítimas", avalia Piggin.

A pedagoga e pesquisadora Cléo Fante, autora do livro "Fenômeno Bullying", ressalta ainda que falta, aos adolescentes, orientação sobre o uso ético e responsável das tecnologias e também sobre as implicações legais. Segundo ela, faltam ainda canais de comunicação para que as vítimas possam denunciar e buscar auxílio, sem medo de represálias.

Escola
Apesar de a escola ser o principal palco de origem do ciberbullying ou bullying, uma pesquisa conduzida em 2009 pela ONG Plan Brasil nas cincos regiões do país revelou o despreparo das instituições de ensino para lidar com o problema. O motivo? As escolas têm tendência a considerar que isso não é da sua alçada. O estudo também apontou que 16,8% dos estudantes são vítimas de ciberbullying, 17,7% são praticantes e apenas 3,5% são vítimas e praticantes ao mesmo tempo.

Para Cléo Fante, está na hora de as escolas assumirem também sua parte de responsabilidade. Ela cita como exemplo um programa piloto que está sendo implantado, sob a sua supervisão, em oito escolas públicas do Maranhão. O objetivo é treinar grupos de alunos para orientar colegas. Segundo ela, o projeto também pode incluir a adoção de um canal online para orientação das vítimas, nos moldes do CyberMentors (mentores online) no Reino Unido.

Embora concorde que a escola deva dar a sua contribuição, a pesquisadora faz uma ressalva e afirma que, para terem sucesso, os projetos dependem do envolvimento das famílias e dos governos. "As medidas mais eficazes são aquelas discutidas, planejadas, aplicadas e avaliadas conjuntamente."

Veja dicas para lidar com o ciberbullying (*):

Para a vítima
- Conte para alguém em quem confie. Pode ser os seus pais, um professor ou seu melhor amigo. Essas pessoas vão ajudá-lo a resgatar a autoestima e buscarão ajuda profissional se for preciso. O mais importante é não guardar a dor para si

- Guarde o e-mail ou a mensagem com insultos ou ameaças para servir de prova contra o agressor

O que é

Ciberbullying é a intimidação virtual realizada por meio de ações intencionalmente hostis e repetidas, cometidas por alguém de hierarquia superior, como um colega de escola mais popular.

O prefixo ciber deve-se ao fato de essas ações serem realizadas via telefone celular (mensagens de texto) ou internet (redes sociais).

Para os pais
- Para saber se seu filho é vítima de ciberbullying, fique atento às mudanças de comportamento, como ansiedade e nervosismo excessivos, vontade de ficar sozinho e queda no rendimento escolar

(Conheça o caso de Georgia Woods, vítima de insultos pela internet)

- Acompanhe de perto o que seu filho faz na internet e monitore as redes sociais. Vale até criar um perfil e pedir para ser adicionado como amigo. O adolescente pode considerar invasão de privacidade, mas, segundo especialistas, "é melhor invadir do que deixar o filho abandonado à própria sorte"

- Deixe claro quais são as suas preocupações e mostre-se disponível para qualquer tipo de ajuda.

- Se constatar o ciberbullying, dependendo da gravidade, salve uma cópia do conteúdo e procure uma delegacia de polícia. Peça ao provedor de internet que o conteúdo seja tirado do ar

- Em casos mais graves, quando a exposição ao ciberbullying causar sérios danos, como constrangimento, humilhação ou ameaça à sua integridade física, moral ou psicológica, mudar de escola ou vizinhança é uma opção

- Para saber se o seu filho é o agressor, observe mudanças comportamentais repentinas, se há irritabilidade frequente e atitudes prepotentes ou dominadoras

- Caso seu filho seja o agressor, oriente-o e exija que interrompa a agressão. Se for preciso, procure auxílio da escola ou de um psicólogo

Para o professor
- Preste atenção em mudanças no grupo, especialmente em situações de agressividade

- Mobilize os alunos e promova discussões sobre o tema. Vale propor atividades de pesquisa ou redações

- Se houver algum caso, seja sigiloso e cauteloso para não rotular a vítima. Encaminhe o problema à direção escolar, que deverá convocar os pais dos envolvidos

- Em seu regimento, a direção escolar pode prever punições, como suspensão

- Em relação ao agressor, as medidas também variam conforme a gravidade: oriente o estudante e o advirta das consequências para si e para a vítima (sem expô-la a situações constrangedoras). Exija que o agressor pare com as ações abusivas

- Para prevenir, a escola deve criar canais de denúncia e campanhas educativas

(*) Fontes: Cléo Fante (pedagoga e pesquisadora); Vera Zimmerman (doutora em psicologia clínica e coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescente, da Unifesp); e Richard Piggin (diretor da ONG britânica Beatbullying)
 

Últimas Notícias

Hospedagem: UOL Host