Georgia-Elizabeth Woods, 14, passou a ser hostilizada na internet quando terminou um namoro
Todos os dias, a partir das 22h, a adolescente inglesa Georgia-Elizabeth Woods, 14, não recebe mais chamadas ou envia mensagens no celular: desse horário em diante, o aparelho fica com os pais. Durante o dia, se quiser usar o laptop, que fica na sala, só com uma senha digitada pela mãe. O conteúdo acessado na internet também é controlado por um programa que bloqueia páginas impróprias. Pode ter perfil em redes sociais, desde que a mãe esteja entre seus amigos. Georgia afirma preferir que seja assim e garante não se considerar vítima de invasão de privacidade, algo que poderia ser visto dessa forma por muitos jovens.
Os pais da adolescente, Tony e Sarah-Jane, controlam ligações no celular da filha à noite, o seu acesso ao computador; rede sociais são permitidas apenas se a mãe for adicionada entre seus amigos
As regras passaram a valer depois que os pais descobriram que Geórgia, moradora de Dartford, no condado de Kent, era vítima de ciberbullying (intimidação virtual praticada via internet ou celular). Foram quase dois anos sofrendo calada e uma tentativa de suicídio. "Os pais devem se envolver, sempre. Eles devem saber com quem seus filhos estão se relacionando e com quem estão conversando, na vida real ou virtualmente", afirma Sarah-Jane Woods, 34 anos, mãe da adolescente.
As agressões na internet começaram após Georgia terminar o namoro com um rapaz da escola. Ela passou a ser hostilizada por amigos dele em seu perfil na rede social Bebo. "Me chamavam de inútil, gorda e feia." Até uma "hate page" (página de ódio) foi criada: "Para quem odeia a Georgia" era o tema da comunidade. Sentindo-se acuada, a situação chegou num extremo que ela tentou se enforcar no banheiro da escola.
Sarah-Jane e o marido, Tony, 36, só foram descobrir o que estava acontecendo quando Georgia viajou para um acampamento e eles resolveram fazer uma surpresa e reformar o seu quarto. "Embaixo do colchão, encontramos páginas do seu diário com anotações suicidas. Entramos em desespero. Ficamos com o coração despedaçado e, como ela estava viajando, não conseguíamos falar com ela naquela hora. Tivemos de esperar a sua volta. Foi doloroso", recorda a mãe.
O problema foi levado ao conhecimento da escola, que não fez muito num primeiro momento, segundo a mãe. "Chamei então a polícia. Um dos agressores chegou a ser suspenso pela escola.” A comunidade no Bebo foi tirada do ar e, com o tempo, a situação foi melhorando.
Ciberbullying é a intimidação virtual realizada por meio de ações intencionalmente hostis e repetidas, cometidas por alguém de hierarquia superior, como um colega de escola mais popular.
O prefixo ciber deve-se ao fato de essas ações serem realizadas via telefone celular (mensagens de texto) ou internet (redes sociais).
Com sessões de terapia e o apoio dos pais, Georgia conseguiu recuperar a autoestima aos poucos. Também foi decisiva a sua participação como mentora online do programa CyberMentors – iniciativa da entidade Beatbullying, em que adolescentes conversam com vítimas do problema via chat.
"Para toda pessoa que me pede conselho no site sempre dou uma palavra de incentivo e digo que existe um final feliz para todos." Por conta do seu envolvimento no combate ao ciberbullying, Georgia recebeu um prêmio de um jornal inglês em março deste ano. O trófeu de vidro agora ocupa um lugar de destaque na sala de estar do apartamento onde a família vive, em Kent, a uma hora de Londres.
Lição aprendida, agora Sarah-Jane mantém as rédeas curtas com os outros três filhos (além de Georgia, há Tyler, 9, Riley, 7, e Cassidy, 3).
"Do jeito que o problema com a mais velha me deixou atenta, é provável que Cassidy não consiga nem chegar perto do computador", brinca, referindo-se à caçula.