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03/09/2007 - 07h00

Filmes interativos têm tremores, clarões e rajadas de vento

Daniel Pinheiro*

Do UOL Tecnologia, em Eindhoven (Holanda)
A sala parece uma dessas de estar, normal —talvez com um quê de loja de decoração ou de design. Um sofá de quatro lugares, uma mesa de centro pequena, três poltronas espalhadas, alguns vasos de plantas nas pontas. Nem a TV chama tanto a atenção —trata-se de um modelo LCD, pendurado na parede, umas 40 polegadas se tanto.

Porém, quando a atenção se volta para o filme que está passando, é possível notar que a imagem está mais viva, salta da tela. A ação começa a ficar mais interessante, os personagens parecem muito próximos, quase palpáveis.

Então a ação deslancha —há uma explosão e é possível ver que a parede onde a televisão está pendurada mostra clarões de luzes fiéis ao padrão de cores do fogo. Clarões que se espalham pelas paredes da sala. Então o chão sob o sofá também treme —o chacoalhão inesperado assusta, mas faz sentido, acompanhando o que se vê na tela.

Agora, o vento que atinge o rosto confirma a imagem que aparece na tela, já que a espaçonave atingida pela explosão consegue atingir uma velocidade mais alta e escapa de mais estragos. Ufa, foi por pouco.

Essa é a sensação de experimentar o Home Lab, construído pela área de inovação da Philips no High Tech Campus, uma das sedes da empresa em Eindhoven, Holanda. Sensação exclusiva, já que até 2008, terão passado pela sala de estar do futuro apenas 2.000 pessoas, entre funcionários, jornalistas e parceiros da empresa.

Nem tudo é tão novo
Apesar de impressionar, a sensação não é totalmente nova. Ela só integra algumas tecnologias que a empresa já utiliza em seus produtos.

No fim das contas é uma soma da TV 3D —que havia sido mostrada como protótipo na IFA 2006 (leia mais) e já é vendida como painel publicitário; da tecnologia de iluminação dos arredores da tela —chamada Amblight, disponível em vários televisores da própria empresa—; dos periféricos amBX, para criar a sensação de vento no rosto e o chão tremendo —que foram mostrados no começo deste ano, na CES, para serem utilizados em jogos para PC—; e, finalmente, do uso de múltiplas lâmpadas alimentadas por LED, que podem exibir cores diferentes de maneira dinâmica —que a empresa holandesa já vende em alguns países sob o nome de Living Colours.

Ainda longe do consumidor
Mesmo não sendo uma novidade completa, é inegável o apelo que esse tipo de solução de entretenimento tem para a maioria dos consumidores. E a demora para que ela chegue às casas comuns intriga. A razão, segundo a própria Philips, ainda é o preço —quando questionado sobre o valor que a "experiência" poderia custar, o funcionário da empresa que conduzia a demonstração disse que, "se fosse lançada hoje, pouquíssimas pessoas no mundo a poderiam ter em suas casas".

Ao consumidor em geral, não há outra solução a não ser esperar e torcer para que cada uma dessas tecnologias seja adotada em larga escala pelo mercado e que o preço da combinação não seja estratosférico.

Há precedentes para que acreditar que isso aconteça —há dez anos, o home theater também era uma idéia nababesca. Quando lançado, fez muitos se perguntarem: "Mas quem tem tanto dinheiro para poder ter uma sala de cinema em casa?"

Falta de padrão
Antes da queda nos preços, porém, há outros problemas com a sala de estar interativa. Um dos maiores é como padronizar o "roteiro" de cada filme reproduzido nesse ambiente, já que não existem nos discos instruções como "aos dez minutos e trinta e sete segundos, dispare o mecanismo que faz o sofá tremer e use dez LEDs para reproduzir uma labareda de fogo na lateral e na traseira da sala". Isso apenas para simular, por exemplo, a decolagem de um ônibus espacial.

"Para os testes no Home Lab, contratamos especialistas em efeitos especiais e constatamos que o máximo que uma pessoa com conhecimento na área pode produzir são dois filmes por mês", explicou Saskia Maas, gerente de comunicação da área de inovação da Philips.

É fácil perceber que há um gargalo nessa matemática —dificilmente há menos de quatro ou cinco estréias por fim de semana nos cinemas.

Já com o roteiro pronto, outro problema não resolvido é sua disponibilidade —já virá incorporado à mídia para reprodução das imagens, ou teria que ser conseguido posteriormente pelo usuário, via download, por exemplo?

"Ainda não definimos como faríamos isso, porque estamos em um estágio ainda muito inicial do projeto. Uma das possibilidades é que a central que administrará esse conteúdo faça automaticamente o download do roteiro", disse Saskia. "Também estamos conversando com os estúdios de Hollywood, fazendo demonstrações, pode ser que seja uma produção conjunta."

*O jornalista visitou o High Tech Campus a convite da Philips

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