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22/10/2008 - 08h59

Medicina na era da Internet: o médico virou um buscador online?

BARBARA AXT | Para o UOL Tecnologia
Já ficou para trás o tempo em que o médico era uma autoridade inquestionável, o que ele dizia era lei e pronto. "Não sei qual o registro de CRM do Doutor Google ou a sua especialidade, mas ele é um sucesso", brinca o pediatra Moisés Chencinski, de São Paulo. Hoje em dia, é impossível para qualquer médico saber tudo o que acontece no mundo e o Google está aí, pronto para ajudar a qualquer momento.

Junto com um mundo de informações, a Internet também trouxe mudanças na maneira como as pessoas se relacionam com os problemas de saúde e, logicamente, com seus médicos.

"Hoje em dia não é possível saber tudo, ter ciência de absolutamente toda a medicina como se fazia 60 anos atrás. Por isso há a divisão em especialidades, em áreas de atuação. A Internet melhora a relação entre médico e paciente no sentido de ter franqueza e transparência", acredita Clóvis Francisco Constantino, presidente do departamento de bioética da Sociedade Brasileira de Pediatria.

"Hoje em dia o médico não pode se esquivar de um assunto ou dúvida. Ele é solicitado a esclarecer informações que o paciente viu na Internet na TV ou qualquer outro lugar, e vai ter que conversar sobre esse assunto. Se não souber, tem que se informar".

O pediatra Moises Chencinski usa a Internet não só para pesquisar, mas também para reunir informações úteis para seus pacientes e divulgar seu próprio trabalho. "Quando atualizo o site, sempre incluo as fontes das minhas informações, os sites de notícias, trabalhos científicos, etc.", explica. "Sempre busco um link oficial como a Anvisa, o Conselho Federal de Medicina ou a Sociedade Brasileira de Pediatria. Dou essas informações para que o paciente tenha base para tomar sua própria decisão".

O Dr. Moisés também é otimista a respeito da influência da Internet: "A relação entre médico e paciente melhorou muito. Se por um lado existe uma cobrança maior em por parte do paciente, o médico tem a possibilidade de usar a Internet para se informar de forma muito mais rápida e muito melhor".

Se o médico está seguro do que está fazendo, não há razão para temer a Internet. No Reino Unido, por exemplo, o próprio site do Serviço de Saúde, o NHS, oferece um monte de informações e indica perguntas que você deve fazer ao seu médico, prováveis tratamentos para cada situação, etc.

É lógico que a última palavra é sempre do médico, mas o site dá as informações necessárias para você ter um diálogo mais produtivo com os clínicos gerais (os GPs, como são chamados). Há também uma versão em português do site.

De qualquer maneira, não é só na Internet que as pessoas descobrem informações sobre cirurgias e tratamentos. A rede só tornou mais fácil e rápido um processo que já acontecia naturalmente. A massoterapeuta Rita Pereira é um exemplo: há dez anos, ela tomou conhecimento da cirurgia bariátrica (de redução do estômago) através da televisão. "Em 1998 havia poucas pessoas operadas. Eu ouvi falar de uma cirurgia que ajudava a emagrecer, comentei com meu marido e ele disse que eu estava louca. Mas na mesma semana o Dr. Arthur Garrido deu uma entrevista na TV, meu marido viu e marcou uma consulta para mim".

Ela fez reuniões sobre a cirurgia com o médico e outros pacientes, trocou experiências e decidiu recorrer à operação. "Minha pesquisa foi só isso. Fui com a cara e a coragem. Com a chegada da Internet e em especial do Orkut, a coisa mudou muito de figura. Quando tive problemas em conseqüência da gastroplastia, foi lá que achei apoio e outras pessoas que estavam passando o que eu passei," explica. Ela é uma das moderadoras da comunidade Gastroplastia, com mais de 6 mil pessoas. Veja como as redes sociais funcionam como grupos de ajuda.

Mas apesar de toda a ajuda, a Internet pode trazer armadilhas, e em certos casos, até riscos para sua saúde.

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