UOL Notícias Tecnologia

09/04/2009 - 07h02

Isso significa que a língua portuguesa está condenada?

BÁRBARA AXT | PARA o UOL Tecnologia
Ainda que alguns professores de português e gramáticos fiquem de cabelo em pé ao ler os recados que dois adolescentes deixam no Orkut um do outro, vários estudiosos acham que não é o fim do idioma como nós o conhecemos.

O linguista britânico David Crystal escreveu um livro sobre texting, a tal linguagem cheia de abreviações que nós já comentamos aqui. Ele explica que por mais que as pessoas baguncem a língua, mudem a grafia das palavras, abreviem e sumam com letras, é impossível bagunçar demais, já que o objetivo de uma mensagem é ser entendida pela pessoa que a está recebendo. Isso garante que algumas regras vão ser sempre mantidas, e que a língua não vai se desintegrar.

Crystal não leva muito a sério os clamores que a internet ou os torpedos de celular sejam uma ameaça à língua. Ele lembra que, quando inventaram a imprensa, lá na Idade Média, teve gente dizendo que aquela era uma invenção diabólica que ia destruir a escrita. E depois mais ou menos a mesma coisa se repetiu no surgimento do telégrafo, telefone, rádio, TV... E até hoje a língua não foi destruída.

Ele acredita, pelo contrário, que quanto mais uma pessoa escreve e usa a língua para se expressar, mais intimidade ganha com ela, e passa a brincar e criar. Na sua opinião, os jovens de hoje escrevem mais do que os de antigamente, já que participam de foruns de discussão, escrevem blogs, trocam mensagens o tempo todo. E sabem quando usar a linguagem de texto e quando escrever da forma tradicional. Ou seja, para ele, essas novidades são uma coisa positiva, não negativa.

A linguista Mariléia Silva dos Reis também acredita que as maneiras diferentes de se escrever usadas na internet enriquecem a língua, assim como os regionalismos e os diferentes sotaques que existem no Brasil e as gírias específicas de determinados grupos.

Durante o ensino fundamental, ela admite, pode acontecer de o aluno confundir o internetês com a língua tradicional e acabar escrevendo uma prova com uma linguagem cifrada (ou que parece cifrada para o professor). Mas à medida que ele vai amdurecendo, aprende onde e quando escrever assim. Um adulto pode usar internetês a vida inteira em fóruns de discussão e saber que não deve escrever assim em uma carta de emprego.

Em uma pesquisa com textos de vários adolescentes, ela verificou que apesar de eles escreverem em internetês quando conversam com seus amigos no MSN, por exemplo, em redações na escola isso é muito raro de acontecer.

"Eu integro grupo de correção de redações de várias universidades, inclusive federais, e nunca encontrei internetês em nenhum texto que avaliei. A partir do ensino médio, nossos alunos vão se situando melhor entre o uso da linguagem escolar e linguagem virtual. E o internetês é ferramenta da web."

Portanto, desde que você saiba a hora de parar de escrever engraçadinho, tenha em mente que nem todo mundo gosta de ler textos iXcRitUs AxiM. Saiba depois voltar para o português "old school" sem sotaque de miguxês, leet ou tiopês, mas na web a regra é clara: se jogue no internetês!

Compartilhe:

    Últimas Notícias

    Hospedagem: UOL Host

    INTERNETÊS