Foto de Renan divulgada em seu perfil no Twitter
Quando recebi a missão de levantar o máximo de informações sobre um desconhecido na internet, identifiquei um problema. Pelo fato de meu “alvo” ter dois sobrenomes, talvez não aparecesse sempre como Renan Betioli Miranda, mas também como Renan Miranda ou Renan Betioli. Como a segunda alternativa é menos comum, foi escolhida como matéria-prima de minhas buscas, junto com o nome completo. Coloquei aspas nas duas opções (para restringir a busca à “frase exata”) e lá fui para o Google, ponto de partida dos detetives virtuais.
O cenário, no entanto, melhorou quando deletei o último sobrenome. Apesar de o Google sugerir Ronan Bertoli -- um modelo com barriga de tanquinho, como mostra o Google Images --, mantive minha aposta e encontrei 148 resultados. O primeiro deles, uma conta no Twitter, com foto, que indicava o link para um perfil no Orkut. Aí sim, a brincadeira começou a ficar divertida (confira aqui as opiniões do próprio Renan sobre seu raio-x virtual).
Parti para a missão de vasculhar o Twitter do suposto Renan que buscava. Com uma biografia que diz muito pouco (“fragmentos de uma mente quebrada...”), bastou ler alguns poucos tweets para ver que o internauta com 112 seguidores gosta de futebol. Muito. E não gosta do Corinthians, porque retuitou diversos usuários que fizeram piada com a eliminação do time na Libertadores, no dia 5 de maio (data do aniversário de Renan, a propósito). Pelos tweets, descobri que ele ouve CPM 22, Red Hot Chili Peppers, come no restaurante Outback de Moema, gosta dos apresentadores do programa CQC e declarou o imposto de renda em cima da hora -- num clima bem #brasileirofeelings, como ele mesmo descreveu.
Voltando até maio de 2009 em sua timeline (linha do tempo no Twitter), identifiquei que ele é Flamengo – será que nasceu no Rio? --, anda de ônibus, tem insônia, frequenta o McDonald’s, assistiu ao BBB 10, bebeu muito no Carnaval, entrou no Orkut em 2004, detesta a marginal Tietê, não vê novela, considera a britânica Kate Backinsale a mais gata do mundo, usa Nextel (com número do rádio devidamente divulgado), trabalha na Siemens, é registrado em carteira como administrador de redes e odeia gente que escreve a letra “m” como se fosse dois “u”. Por fim, o melhor: é, de fato, a pessoa que eu buscava, pois citou o repórter do UOL Tecnologia que indicou seu nome em um dos tweets.
E não é só isso!
O que faltou nessa lista possivelmente seria revelado por seu perfil no Orkut -- e aqui nem foi preciso fazer uma busca, bastou usar o próprio link divulgado por Renan. No site de relacionamentos do Google, li de cara que ele tem 24 anos e namora. No detalhadíssimo “quem sou eu”, o “alvo” conta entre outras coisas que já viajou para Angra dos Reis, para a Argentina e que sua mãe mora em Florianópolis, enquanto ele vive em São Paulo (confirmação do que o Twitter já dava a entender). Tem irmãs, um cachorro chamado Terezo e acaba sua descrição divulgando -- sim! -- seu número de telefone. Ou seja: no Twitter o rádio, no Orkut o celular.
“Quem não leu [todo o ‘’about me’’] nem vai perceber que esse é meu celular”, conclui o internauta/ namorado/ administrador de redes/ passageiro de ônibus/ flamenguista/ dono do Terezo. Já as 46 comunidades não indicam muito mais que a posse de um Nokia N95 de 8 GB, e o álbum de 336 fotos (317 liberadas) mostra um protagonista bastante sociável com uma tatuagem tribal no braço direito.
Na rede social Orkut, Renan tem 336 fotos, sendo 317 delas liberadas para desconhecidos
Como os recados e depoimentos estão trancados para estranhos, não foi fácil descobrir quem é a namorada de Renan. Tentei pelos fãs, mas não encontrei pistas. Fui então para suas atualizações, com comentários frequentes de uma internauta apelidada Bu!. Cliquei em seu perfil e, no álbum de fotos, vi a viagem para Angra que também aparece no perfil de Renan. Nas imagens dela, os dois aparecem bastante juntos, indicando ser o casal que eu procurava. Rá!
A essa altura, mais de uma hora vasculhando a vida de um ex-desconhecido, estava cansada do papel de detetive. Por isso me alegrei quando não tive sucesso com as buscas por "Renan Betioli” e “Betioli” no Facebook – já pensou quanto ainda daria para xeretar por lá?
Voltei para o Google, que me levou para a rede social Beltrano, onde encontrei o endereço de e-mail do “alvo”, a informação de que ele mora sozinho, sua altura (1,85 m), a cor dos olhos (azul) e a formação (técnico em tecnologia nuclear. Ãh?). Os outros resultados da busca não foram muito além de comentários em blogs, e assim conclui – satisfeita, devo dizer – o raio-x virtual de Renan Betioli Miranda.
Análise de Renan Betioli Miranda sobre seu raio-x virtual
Com as buscas virtuais concluídas, o texto foi enviado para aquele que teoricamente é seu próprio autor: Renan Betioli Miranda, o responsável por colocar suas informações pessoais na internet. A ideia era que ele corrigisse possíveis erros de informações coletadas na web e também relatasse qual a impressão de ser analisado por uma completa desconhecida. “O texto é mesmo a minha cara, apesar de eu discordar. Mas é que sou assim mesmo, né?”, escreveu depois de ver o conteúdo.
O erro mais grave na busca online ficou por conta do time: Renan não é flamenguista, mas sim são paulino (em defesa da detetive virtual, ela nunca negou ignorar por completo os assuntos futebolísticos). “Flamenguista foi só no dia do meu aniversário [quando o Corinthians foi eliminado da Libertadores]. Sou muito são paulino, corintiano e paulistano com muito orgulho.” Ele também não trabalha na Siemens (algo que um tweet havia me levado a acreditar) e não tem formação técnica em tecnologia nuclear (como dizia o perfil do Beltrano), mas sim em redes.
Desde que preencheu seu perfil no Beltrano, Renan também cresceu 2 cm (hoje mede 1,85 m) e disse ter ganhado alguns quilos. Além disso, sua tatuagem, descrita no texto como uma tribal, na verdade é uma maori (hein?). E, ao contrário do que diziam dois de seus textos no Tweeter, às vezes ele assiste às novelas e sua marginal detestada não é a Tietê, mas sim a Pinheiros.
