Quer ver um filme? Diga ao seu celular "cinema", e ele responderá, na tela, com os endereços mais próximos. Depois de escolher algum, fale em alto e bom tom o número de ingressos, o nome do filme e o horário —pronto, basta clicar em um botão, e os ingressos estão comprados. Passou em frente ao teatro e quer descobrir a programação? Basta apontar a câmera do aparelho para o lugar para obter, em instantes, a relação de espetáculos da casa.
Estas são algumas das inovações previstas por Bill Gates, fundador da Microsoft, durante sua tradicional apresentação na abertura da CES 2008 (Consumer Electronics Show), maior feira de eletrônicos do mundo, em Las Vegas, nos Estados Unidos.
Segundo ele, o caminho da tecnologia é servir como uma espécie de "memória digital", integrada a tudo a nossa volta. Para tanto, o computador terá que sair cada vez mais de si mesmo, seja em telas de projeção em qualquer superfície, dentro do carro, na TV ou no celular. "Toda a mídia e o entretenimento serão dirigidos pelo software", disse. E mais do que isso: "os aparelhos saberão o contexto do usuário".
Para isso, a tecnologia GPS (Sistema de Posicionamento Global, em inglês) tem um papel fundamental.
Durante a apresentação de Gates, Robbie Bach, presidente da divisão de entretenimento e aparelhos da Microsoft, demonstrou a tecnologia Tellme, que refina resultados de busca de voz via celular de acordo com a localização geográfica do usuário. O sistema já está disponível em telefones da AT&T e da Sprint nos EUA, e será integrado a próximas versões do Windows Mobile.
Na demonstração, uma assistente de Bach pesquisou por cinemas em Las Vegas e mostrou futuras possibilidades da tecnologia —a compra de ingressos por comandos de voz e o envio de informações do filme para os amigos.
Novas interfacesCom a popularização de novas formas de interação entre nós e os computadores, Gates prevê a extinção do teclado e do mouse, que serão substituídos por telas sensíveis ao toque, comandos de voz, reconhecimento visual e gestos.
E aqui, novamente entra o celular. Gates e Bach demonstraram uma possível aplicação capaz de reconhecer rostos e até edifícios —um teatro ou hotel, por exemplo. Na demonstração, a fachada estática de uma casa de espetáculos de Las Vegas, vista pela câmera de um aparelho móvel, começa a exibir animações com dados sobre os shows.
A tecnologia impressiona —mas não é mais que uma possibilidade, ao menos por enquanto. Apesar dos celulares exibidos nos telões, Gates segurava um aparelho maior que os primeiros celulares "tijolões", e com fio. Além disso, esse tipo de aplicação também exige de um mercado em que a Microsoft está cada vez mais de olho —a publicidade. Segundo Bach, somente a publicidade móvel vai movimentar mais de US$ 11 bilhões até 2011.
Última apresentaçãoEsta foi a décima primeira e última apresentação de Gates na abertura da CES. Segundo ele, o processo de transição do comando da Microsoft já está avançado —o diretor técnico Ray Ozzie e o diretor de estratégia Craig Mundie devem assumir as principais funções de Gates até o meio do ano, reportando-se ao diretor executivo Steve Ballmer. A partir de então, como havia anunciado em 2006, Gates vai se "aposentar".
"Esta é minha última apresentação. No meio deste ano vou parar de trabalhar em tempo integral na Microsoft e passar a me dedicar para a Fundação [Bill & Melinda Gates]", disse.
Em tom de despedida, ele exibiu um vídeo de pouco mais de cinco minutos de duração em que aparece em seu suposto último dia de trabalho. Bem humorado e com depoimentos debochados de celebridades como o vocalista Bono Vox, do U2, o ator George Clonney e até a pré-candidata às eleições dos EUA Hillary Clinton, o vídeo mostra um Bill Gates desastrado e carente.
O que deixa a impressão de que, apesar de deixar o escritório, o guru da Microsoft ainda terá papel ativo em Redmond —e talvez não deixe de falar aos milhares de participantes da CES nos próximos anos.