Já existem programas em alta definição e multiprogramação na TV digital. Mas e a interatividade, onde está? A resposta é que, antes de chegar aos televisores dos brasileiros, ela deve passar por um caminho que inclui a adoção de um padrão específico a ser incluído nos conversores brasileiros. Porém, não espere ver todos os set-top boxes no mercado dotados de ferramentas de interatividade assim que o processo chegar ao final.
Criado em parceria, por equipes da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba), o middleware Ginga deverá ser o responsável por levar enquetes, jogos e compras à televisão digital. Ele é constituído por duas plataformas capazes de funcionar de forma independente: o Ginga NCL e o Ginga-J.
Por que o Ginga ainda não está pronto?Raoni Kulesza, pesquisador do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital da UFPB, explica que as duas partes do middleware têm funções um pouco diferentes. O Ginga-NCL é baseado em uma linguagem do meio acadêmico e serve para gerar aplicações simples, como anúncios que poderão aparecer na tela durante a programação de um canal. Já o Ginga-J usa tecnologia Java, da Sun Microsystems, e pode rodar jogos e aplicações de comércio eletrônico.
Acontece que o Ginga-J foi desenvolvido inicialmente com uma especificação proprietária e os fabricantes de eletrônicos brasileiros protestaram contra a possibilidade de ter de pagar
royalties pela inclusão do middleware em seus equipamentos. "O núcleo GEM é usado no Japão, Europa e Estados Unidos, e os
royalties nunca foram cobrados. Como aqui no Brasil principalmente os fabricantes não quiseram correr o risco de ter de pagá-los, a Sun propôs reescrever esse núcleo junto conosco", conta Raoni, da UFPB.
A INTERATIVIDADE PERMITE... |
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Jogar games disponíveis em plataforma Java |
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Participar de enquetes |
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Gravar programas encontrados por palavra-chave |
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Acessar aplicações de bancos |
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Fazer compras |
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Enviar comandos ao Ginga pelo controle do Wii |
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* As funções dependem de o conversor do usuário oferecer suporte aos tipos de aplicações que se quer acessar e um canal de retorno para o envio de dados —como uma conexão à Internet |
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A primeira versão deste esforço foi entregue ao Fórum SBTVD (Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital) há duas semanas. Ele será devolvido aos desenvolvedores do Ginga com comentários e correções. "Acreditamos que os ajustes necessários sejam finalizadas no primeiro setembro de 2009. Aí, o código será oficializado pela ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas] e publicado como referência-modelo", diz o pesquisador. A partir daí, os conversores poderão ser fabricados com o middleware de interatividade.
Interatividade será extra, e não função principalOs recursos de interatividade, porém, não serão obrigatórios nos set-top boxes brasileiros. "O Ginga não é obrigatório. É como quando você compra um automóvel: um carro tem 10 airbags, outro tem dois e outro ainda vem sem nenhum. O Ginga vai funcionar mais ou menos como um acessório numa linha de produtos", diz o diretor de tecnologia para a América Latina da Philips, Walter Duran.
Além disso, acessar certas aplicações, como a participação em enquetes, dependerá de um canal de retorno —que pode ser a Web, o telefone ou outro tipo de conexão dedicada ao envio de dados— para que o voto do telespectador seja computado pela emissora. Ou seja, a interatividade completa vai depender de o usuário possuir um equipamento de ponta e conexão com a Internet em casa.
"Os conversores vão atender alguns nichos de mercado; isso é normal. Não é todo mundo que precisa de interatividade. Vamos vender produtos adequados para cada faixa de mercado", afirma o executivo.
Resta saber quanto custarão os extras para o consumidor comum.