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27/08/2010 - 11h27

Terceira geração do Kindle deixa os rivais ainda mais para trás

David Pogue
Do New York Times
  • Divulgação

    O Kindle 3 é projetado para ser tudo o que o iPad nunca será: pequeno, leve e barato

É uma pena que não exista um reality show chamado “Reuniões Mais Insanas de Empresas de Tecnologia da América”, no qual você assistiria reuniões clássicas de pânico. Por exemplo, quando um funcionário da Apple esqueceu um protótipo do iPhone 4 em um bar. Ou quando a Intel descobriu que seu chip Pentium 5 continha um erro matemático. Ou quando a Microsoft foi pega subornando blogueiros com laptops de US$ 2.500 para promover o Windows Vista.

Um dos episódios mais emocionantes, entretanto, poderia ser uma exibição da Amazon no dia em que a Apple anunciou o iPad.

A Amazon faz o popular leitor de livros eletrônicos Kindle. Por algum tempo, ele foi basicamente foi único em seu campo. Mas o iPad tem uma tela de toque, cor, programas mais bonitos, áudio e reprodução de vídeo, 100 mil aplicativos –e na época, não custava muito mais que o Kindle. Para o Kindle, com sua tela monocromática sem ser de toque, o iPad era o pesadelo básico (a cores).

Nesta semana, a Amazon apresentou o que todos (exceto a Amazon) estão chamando de Kindle 3. Você poderia chamá-lo de resposta da Amazon ao iPad. O Kindle 3 é inteligentemente projetado para ser tudo o que o iPad nunca será: pequeno, leve e barato.

A pequenez vem na forma de uma redução de 21% nas dimensões dos Kindles anteriores. O novo mede 19 X 12,2 X 0,7 centímetros, mas a tela tem as mesmas medições diagonais de seis polegadas de sempre. Os projetistas da Amazon fizeram o que deviam ter feito há muito tempo: eles eliminaram grande parte daquela margem vazia de plástico bege (ou agora cinza escuro).

Agora, o Kindle é quase ridiculamente leve; com 240 gramas, ele tem um terço do peso do iPad. Isso é muito bom para uma máquina que você pretende ficar segurando nas mãos por horas.

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    O novo mede 19 X 12,2 X 0,7 cm, mas a tela tem as mesmas medições diagonais de 6 polegadas de sempre. Os projetistas da Amazon fizeram o que deviam ter feito há muito tempo: eliminaram grande parte daquela margem vazia de plástico bege

E há o preço de US$ 140. Isso para o modelo com Wi-Fi –uma nova característica do Kindle para superar o Nook da Barnes & Noble. Um modelo de Kindle que também pode se conectar online utilizando a rede de telefonia celular, como os modelos anteriores, custa US$ 50 a mais. Mas a principal coisa que você faz com a função sem fio é baixar novos livros, de forma que o Wi-Fi basta para a maioria das pessoas.

Esse preço de US$ 140 é uma redução e tanto do preço de US$ 400 do Kindle original e uma fração do preço de um iPad (de US$ 500 para cima, bem para cima).

Sim, é claro, é tolice comparar o Kindle com o iPad, um computador pleno com poderes infinitamente maiores. Mas vale a pena notar, caso você esteja de fato considerando o iPad principalmente por suas funções de livro eletrônico, que o catálogo do Kindle de 630 mil livros é 10 vezes maior do que o da Apple.

Papel eletrônico

Não, o verdadeiro concorrente do Kindle é o grande número de leitores de livros eletrônicos rivais, extremamente semelhantes, que usam a mesma tecnologia de tela E Ink.

A E Ink é uma tecnologia satisfatória para leitura, mas profundamente falha, para as telas de livros eletrônicos. Ela funciona ao aplicar uma carga elétrica a milhões de minúsculas partículas pretas, fazendo com que congelem em um padrão de letras ou imagens em graduação de cinza. O resultado realmente parece tinta no papel, porque o elemento preto fica próximo demais da superfície.

A tecnologia do ''papel eletrônico'' também é ótima para a duração da bateria, já que apenas virar as páginas utiliza energia; fora isso, a imagem pode permanecer na tela para sempre sem exigir qualquer consumo de energia adicional. (A Amazon diz que no novo Kindle, se você desligar a função de conexão sem fio, você pode ler por um mês com uma única carga.)

Mas a E Ink tem muitos revezes. Ela é lenta para mudar a imagem da página, por exemplo. O novo Kindle reduz a espera de virada da página para bem menos de 1 segundo. É a mudança de página mais rápida entre os leitores de livros eletrônicos, deixando seus rivais comendo poeira (especialmente o Nook, que, apesar das cinco atualizações de programa desde seu lançamento, continua devendo). Mas o momento de virada de página ainda exibe uma sequência de flash preto-branco-preto bizarra – uma característica não negociável da E Ink.

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    Agora, o Kindle é quase ridiculamente leve; com 240 gramas, ele tem um terço do peso do iPad. Isso é muito bom para uma máquina que você pretende ficar segurando nas mãos por horas

Os problemas de velocidade da E Ink significam que ela nunca poderá exibir vídeo. E, é claro, não pode exibir cor. No mês passado, Jeff Bezos, o presidente-executivo da Amazon, respondeu a respeito disso desta forma: “Você não vai melhorar Hemingway adicionando vídeos”. Sim, mas cor e vídeo podem melhorar uma nova era de livros eletrônicos mais animados.

Ainda assim, a Amazon claramente dedicou bastante tempo para aprimorar a nova tela E Ink do Kindle. O fundo cinza é ligeiramente mais claro do que o de qualquer outro leitor, produzindo um contraste muito melhor atrás do texto preto.

Qual leitor comprar?

No mundo dos livros eletrônicos protegidos contra cópia, escolher um leitor é uma decisão particularmente importante. Você não está comprando apenas um leitor portátil. Você está se comprometendo com uma loja online de livros eletrônicos em particular, já que em geral, os livros eletrônicos de uma empresa não funcionam nos leitores de outras empresas. (A única exceção: Sony e Nook usam o mesmo esquema de proteção contra cópia.) Mesmo no novo Kindle, você não pode ler livros não protegidos no popular formato ePub, como pode nos concorrentes.

(Mas a Amazon e Barnes & Noble oferecem excelentes programas de leitura para Mac, Windows, iPhone, iPad e Android; em outras palavras, você não precisa de fato comprar um Kindle ou um Nook para ler os livros eletrônicos dessas empresas. Compre um livro e leia em todos seus aparelhos. Os livros do Kindle permitem até mesmo sincronização sem fio, de forma que cada aparelho sabe onde você parou –uma função que ainda está na lista de coisas por fazer do Nook.)

Felizmente, as lojas online também são muito boas (exceto a da Apple, cuja seleção de livros ainda é insignificante). O preço também parece ter nivelado; em geral, Amazon, Barnes & Noble e Sony oferecem exatamente os mesmos preços para os best sellers do “New York Times”. Infelizmente, muitos deles agora custam US$ 13, em comparação aos US$ 10 que a Amazon costumava cobrar por todos os best sellers.

Esses preços parecem altos. O fato dos livros eletrônicos não envolverem impressão, encadernação, remessa, distribuição ou recolhimento, nem transformação em aparas de papel para as cópias não vendidas, deveria economizar algo. E é ultrajante o fato de você não poder vender e nem dar um livro eletrônico ao terminar de lê-lo. Você pagou por ele; por que não deveria poder passá-lo adiante? (Fim da reclamação.)

Memória de elefante

A nova memória não removível do Kindle agora guarda o dobro de livros: 3.500 deles, que devem bastar para cobrir seu próximo atraso de voo. O joystick minúsculo foi substituído por botões de controle em quatro direções como os de celulares, e os botões para virar a página Avançar e Recuar, que ficam em ambas as bordas, agora são silenciosos, para o agrado de cônjuges que estão dormindo. E o novo Kindle aceita documentos em PDF bem melhor agora; você pode até adicionar anotações neles e ampliá-los.

É claro, os rivais do Kindle têm suas próprias características atraentes. O Nook, por exemplo, tem uma tela de toque colorida que engasga, abaixo da tela de E Ink, que é usada para navegação. Você pode ler qualquer livro no Nook sem pagar, por uma hora por dia, quando você está em uma livraria Barnes & Noble. Você pode até mesmo “emprestar” um livro para um amigo –apesar de apenas pelo máximo de duas semanas, uma vez por título e apenas livros cujas editoras autorizaram essa função.

Os Readers da Sony têm tela de toque; alguns modelos possuem até mesmo telas de iluminação internas. (Se você acreditar nos rumores, novos modelos de Reader estão a caminho.)

Realmente, o que torna o Kindle tão bem sucedido não é o que a Amazon acrescentou a ele; é o que a Amazon substraiu: tamanho, peso e preço. A configuração de duas telas do Nook o torna complicado. As camadas adicionais de tela do Sony tornam a E Ink menos nítida.

Enquanto isso, certos fatos são inquestionáveis: o novo Kindle oferece a melhor tela E Ink, mudança de página mais rápida, corpo menor, mais leve e mais fino e o menor preço dos leitores de livros eletrônicos. Também está mais refinado e confortável.

Sem dúvida, os próximos episódios de “Reuniões Mais Insanas de Empresas de Tecnologia da América” não serão gravados na Amazon, mas sim em suas rivais.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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