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17/04/2009 - 10h00

Vale a pena comprar eletrônicos no Paraguai?

SÉRGIO VINÍCIUS | Para o UOL Tecnologia
Nos anos 80, em termos de viagens e importação, o grande barato era ir ao Paraguai. De lá, turistas, compradores e demais interessados traziam ao Brasil traquitanas orientais, equipamentos eletrônicos, utensílios diversos. Tudo a um preço bem acessível.

O mercado brasileiro abriu, produtos chineses e genéricos invadiram as grandes cidades do Brasil e o país vizinho acabou, por anos a fio, meio esquecido quando o assunto era aquisição de eletrônicos. Mas já é hora de lembrar do Paraguai. E pelo mesmo motivo de duas décadas atrás: ainda —ou novamente— vale a pena realizar compras por lá.

Bem ao lado de Foz do Iguaçu, no Paraná, fica Ciudad del Este, no Paraguai. Entre as duas cidades, a Ponte da Amizade. "Uma ponte é pouco para tanta amizade", diz um outdoor do lado brasileiro da fronteira. E, a julgar pelos preços dos eletrônicos, ele tem razão.

Em alguns dias passeando pelas lojas nos pequenos shoppings de Ciudad del Este, o que se vê são eletrônicos com preços até 50% mais baratos do que no Brasil. Tudo é pago em dinheiro ou cartão de crédito internacional, que, neste caso, pode ser parcelado em até seis vezes.

Os vendedores, a maior parte brasileiros, são educados e pacientes. Um tanto agressivos com relação aos preços —o que é bom para o consumidor. "Onde você viu esse laptop por esse valor? Posso fazer mais barato", diz Tiago Silva, que pega uma calculadora e digita diversos números até chegar a um valor menor do que o oferecido pela loja ao lado.

O que vale a pena?

Antes de iniciar as compras —ou mesmo botar o pé na rua, rumo ao Paraguai— vale a pena comparar os preços. E ter em mente que, para que a compra valha mesmo a pena, sem ter que se preocupar com a alfândega, o turista pode comprar até US$ 300 em mercadorias. Mais do que isso, é necessário fazer cálculos no site da receita.

Esses US$ 300 são chamados de "cota de fronteira". Ela possibilita que turistas, via terrestre ou aquática, comprem e transportem produtos de Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazu, na Argentina, sem que as autoridades aduaneiras taxem a importação.

Por conta desse valor mediano, a cota de fronteira não torna atrativa a compra de produtos de alto valor agregado, como notebooks de última geração ou PCs incrementados. Traquitanas mais baratas, como MP3, MP4 e outros também não são atraentes, por terem preços semelhantes aos do mercado brasileiros, em shoppings populares.

Itens medianos, como câmeras fotográficas de marca ou impressoras, podem valer a pena do ponto de vista econômico. Uma máquina de fotos Sony DSC-S950, de 10,1 megapixels, por exemplo, pode ser encontrada por US$ 132. Em um câmbio de R$ 2,32, o produto sai por R$ 306,24. No Brasil, a mesma Sony custa a partir de R$ 535 em um site comparador de preços.

Outro exemplo que vale ser usado para ilustrar o ato de comprar no Paraguai é a aquisição de impressoras. Uma Epson Stylus Photo R290, jato de tinta, é encontrada no Brasil a partir de R$ 599. Em Ciudad del Este, o equipamento custa US$ 108, que, em um câmbio de R$ 2,17, seria adquirida por R$ 234,36. Itens como HDs externos, roteadores e outros de valor semelhante mantém essa média de diferença de preço: quase 50% mais barato do que o que é encontrado em sites comparadores de preço.

Nota e garantia

As lojas de eletrônicos dominam os shopping de Ciudad del Este, que ao ar livre é cheia de barracas que vendem vestuários, DVDs, CDs, alimentos. Dentro dos centros comerciais, é possível analisar detalhadamente os produtos, negociar com os vendedores (a maioria brasileiros) e até ter aulas sobre eletrônicos.

"Os MP3 são os aparelhos que tocam música. Os MP4, passam filmes. MP5 tem telefone celular. MP6, outras coisas. MP7, TV", ensina o vendedor paraguaio Muller, apresentando um player da marca Orange, com símbolo bastante semelhante ao da Apple. "Sim, é chinês. Mas o que não é feito lá hoje em dia?"

Depois da aula sobre MP vários, Muler informa que o aparelho tem garantia de um ano. E que a loja oferece nota fiscal do aparelho. Dezessete lojas depois, a conclusão é que, pelo menos, 17 lojas oferecem nota fiscal com comprador e que todas dão garantia de um ano. "Mas tem de trazer o aparelho aqui, caso quebre", informa José, outro vendedor, brasileiro. Segundo o Procon-SP, não é bem assim.

Veja entrevista com o órgão

Entretanto, antes mesmo de comprar o aparelho, o interessado sai da loja com a certeza de que ele funciona. Em todas as lojas, os vendedores permitem que o usuário teste o produto antes de ser embalado. Nas maiores, há uma seção especial no qual os empregados testam os produtos na frente dos clientes.

Leilão

Como no Brasil, o que vale nas lojas de Ciudad del Este é pechinchar. Sair com um caderninho e os preços indicados pelo vendedor é bastante útil. Loja a loja, os preços podem ser baixados. A idéia é empurrar para o comprador o que ele queira —e também o que não deseje tanto.

Como teste, foi procurado um cabo USB/USB, com ambas as pontas macho. O produto é encontrado no Brasil até que facilmente, mas aparentemente as principais lojas de Ciudad del Este não contam com ele em estoque. Mais de uma vez, vendedores tentaram empurrar um hub, que continha na caixa o tal cabo USB/USB, a um preço bem inferior ao pedido originalmente para o aparelho para redes (de 4 portas, por R$ 15,05. No Brasil, é encontrado por R$ 20, em média). Somente o cabo, no Brasil, custa aproximadamente R$ 20.

O argumento foi bastante convincente. Uma espécie de "jeitinho brasileiro" misturado com um "precinho paraguaio" e uma camaradagem latina trouxeram mais um cabo USB ao Brasil. E, de quebra, um hub. Uma ponte é pouca para tanta amizade.

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