UOL Notícias Tecnologia

01/10/2010 - 11h47

Acessório transforma iPods e iPhones em ''máquinas'' de cobrança para cartão de crédito

David Pogue
Do New York Times
  • Square faz iPods, iPhones e outros smartphones funcionarem como sistemas de cobrança

    Square faz iPods, iPhones e outros smartphones funcionarem como sistemas de cobrança

É sempre emocionante quando alguém olha para “A Forma Como as Coisas Sempre Foram Feitas” e depois se pergunta: por quê? E passa a mudar o mundo para sempre.

1967: Por que é necessário esperar na fila para um caixa humano se só o que você quer fazer é sacar dinheiro?

1974: Por que seu documento na tela do computador não pode ser igual quando é impresso?

1991: Se o xampu sempre fica no fundo da garrafa, por que a tampa fica em cima?

Recentemente, uma empresa de San Francisco vem fazendo uma pergunta igualmente transformadora: Por que nem todos aceitam cartões de crédito?

Veja bem, os cartões de crédito são ótimos. Há um recibo de papel, há proteção contra fraude, e é de uma conveniência incrível –é só passar e ir embora. Mas por que somente as empresas os aceitam? Por que não podemos usá-los para pagar o professor de piano, a babá, o adolescente que corta a grama e até os meninos vendendo limonada na rua? Por que os cartões de crédito não são aceitos em brechós ou nas barraquinhas de cachorro quente? E, quando seu amigo bêbado quiser pegar emprestado US$ 20 para pagar o táxi para casa, por que não eliminar o mal estar e os conflitos futuros cobrando do Visa dele na mesma hora?

“Bem”, você certamente está respondendo, “porque sim! É assim. Somente as empresas aceitam cartão, todo mundo sabe disso!”

Sim, mas por quê?

  • Getty Images

    Por que os cartões de crédito não são aceitos em brechós ou nas barraquinhas de cachorro quente?

A empresa que está fazendo essa pergunta chama-se Square. Seu diretor executivo é Jack Dorsey, um dos fundadores do Twitter –já ouviu falar? A Square não está apenas perguntando por que, está propondo uma mudança dessa regra para sempre.

De fato há boas razões por que os indivíduos não aceitam cartão: o sistema inteiro é um pesadelo de tarifas e burocracias.

Para se tornar um comerciante que aceita cartão, você tem que comprar o equipamento que lê a tarja magnética, que custa centenas de dólares. Geralmente, você paga uma taxa de inscrição e se compromete com um contrato de um ou dois anos com a companhia de processamento. Além disso, você paga US$ 15 a US$ 25 por mês, mais uma taxa de transação mínima de US$ 25 por mês, mesmo que não tenha tido nenhuma venda.

Celular faz cobrança

O sistema Square Up, por outro lado, elimina tudo isso. Tudo mesmo. Torna a barreira para entrada no mundo do cartão de crédito tão baixa, que não há nada que o impeça, você, pequeno, de fazer o salto.

Primeiro, o equipamento: você precisa de um iPhone, iPod Touch ou (em breve) um Android. Por que comprar uma máquina de autorização especial quando você já tem um computador sem fio em seu bolso?

Infelizmente, a Apple se recusa a acrescentar uma fenda de passar cartão no iPhone. Então a Square fornece um leitor minúsculo, de meia polegada, que se prende à entrada do fone de ouvido do telefone. O leitor é uma fenda minúscula na qual você passa o cartão.

(O nome Square refere-se tanto ao formato do pequeno leitor quanto ao que ele faz –pela expressão em inglês de “are we square?”, ou “estamos acertados?”, bonitinho.)

  • Getty Images

    Por cada transação, a Square cobra 2,75% do total, mais US$ 0,15. É mais barato do que os contratos “de verdade”, nos quais você paga de 3 a 4%, mais US$ 0,30 por transação

O acessório é gratuito. Em outras palavras, não apenas você evita os contratos, as taxas mínimas e as tarifas mensais, mas o custo do equipamento é zero. Para a Square, você pode guardar seu leitor em uma gaveta e usá-lo uma vez por ano, sem problemas.

Por cada transação, a Square cobra 2,75% do total, mais US$ 0,15. É muito mais simples e em geral mais barato do que os contratos “de verdade”, nos quais você paga de 3 a 4%, dependendo do tipo de cartão, mais US$ 0,30 por transação.

Então digamos que alguém da Craigslist aparece para comprar suas quinquilharias. Você acopla o leitor da Square em seu telefone ou tablet e digita a quantia; pode ser US$ 1 por um ioiô, US$ 25 por uma caixa de discos velhos ou US$ 12.000 por um carro usado (não há quantia máxima). Você digita a descrição que quiser e talvez até tire uma foto do que está vendendo.

Aí você passa o cartão do cliente, o que pode exigir algumas tentativas. Seu feliz cliente assina na tela do telefone com o dedo (uma revisão do software vai tornar esse passo opcional). Se você quiser, pode digitar o endereço de email do cliente e o recibo será enviado automaticamente, junto com um mapa mostrando exatamente onde ocorreu a transação.

O programa é lindo e super simples. Para tirar uma foto, você toca no ícone da câmera. Para assinar, você desenha onde diz “assine aqui”. Será que você consegue?

Você pode acrescentar uma gorjeta, quando apropriado e pode aceitar e acompanhar pagamentos em dinheiro. E você pode aceitar pagamentos de cartão sem o próprio cartão –pelo telefone, por exemplo. Só o que você precisa é do número do cartão, data de expiração e código de segurança, apesar dessas transações custarem mais (3,5%).

O software do iPad é ainda melhor. Ele tem uma “prateleira” com as coisas que você costuma vender, com os preços, o que é ótimo se você tem uma lojinha.

De qualquer forma, é isso: seu telefone se conecta com a Square, autoriza a compra, envia o recibo por email e registra a transação em sua página pessoal do Square Web. Há uma tabela organizada com relatórios do que você recebeu no dia. Você pode baixá-la em formato de planilha, se quiser.

Você acaba de aceitar pagamento da mesma forma que as lojas da Apple: sem fio, sem caixa registradora, usando um aparelho de mão conectado à Internet. O seu maior problema talvez seja superar as suspeitas de seus clientes; as pessoas não confiam no que não entendem, e é difícil aceitar o conceito que Todomundo como você pode agora aceitar Visa, MasterCard e American Express –pelo telefone.

Conceito perturbador, mas brilhante

Para fazer sua inscrição na Square, é preciso fornecer seus dados bancários, para que a empresa possa depositar o dinheiro. Somente os primeiros US$ 1.000 de cada semana caem imediatamente em sua conta. Qualquer coisa acima disso é revista pelos auditores da companhia; pode demorar até 30 dias até você ver o resto do dinheiro. Isso pode ser um lado ruim se você vende muitos carros usados.

Mas isso só é assim no começo. Quanto mais você usar o serviço sem incidentes, mais flexível será o limite de US$ 1.000. De fato, se você quiser dar mais detalhes sobre seus negócios à Square desde o início, eles aumentam esse limite desde o começo.

Sempre imaginamos que um conceito perturbador, brilhante e irresistível vai decolar, mas seu caminho tem sido atribulado. Os lotes iniciais de leitores atrasaram. Quando chegaram, havia longas listas de espera que não puderam ser atendidas. Como medida anti-fraude, a Square impôs originalmente um máximo de US$ 100 por transação, tornando o sistema muito menos útil. Os leitores originais eram manhosos e custavam a passar os cartões –e não funcionavam com a antena de metal externa do iPhone4. (Quem adotou o Square logo cedo teve que buscar soluções humilhantes como colocar um pedaço de papel entre o leitor e o telefone.)

De acordo com a empresa, todos esses problemas foram resolvidos. Enormes quantidades de leitores novos, redesenhados, mais confiáveis e à prova do iPhone4 chegam nesta semana (do tipo que eu testei). Em duas semanas, segundo a empresa, todos os pedidos serão enviados; todos que tinham os aparelhos antigos receberão o novo automaticamente e as novas encomendas serão enviadas prontamente.

Esperemos que seja verdade. Porque o sistema da Square é lindo, simples e uma alegria de usar. Economiza dinheiro, burocracia, preocupação e vendas perdidas. Qualquer um que tem que te pagar, por qualquer motivo, recebe uma incrível conveniência e um sistema superior para registrar seus gastos.

Agora vamos esperar que mais pessoas inteligentes continuem perguntando “Por quê?” como, por exemplo: “Por que o Wi-Fi é gratuito nos hotéis baratos, mas custam US$ 17 por dia nos caros?” “Por que as pias públicas não têm pedais no lugar de torneiras?” e “Por que não podemos pagar só pelos canais a cabo que de fato queremos?” 

Tradução: Deborah Weinberg

Últimas Notícias

Hospedagem: UOL Host