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12/02/2008 - 09h58

Fila, tuning de PC, Gil e Quasi dão o tom do primeiro dia da Campus Party

CHARLES NISZ | Do UOL Tecnologia
Quem chegou no início da tarde de ontem ao Pavilhão da Bienal no Ibirapuera, em São Paulo, ficou assustado: a fila para entrar dava a volta no prédio. E tudo isso só para assistir uma "obra de arte" coletiva. Os autores são os 3.000 participantes da 11ª edição da Campus Party, evento de comunidades da Internet. Esta é a primeira vez que o evento acontece fora da Espanha.

A demora para a entrada dos "campuseros" —apelido pelo qual os participantes são conhecidos— aconteceu por dois motivos: a demora para localizar os "nicks" com os quais os participantes haviam se inscrito e a impressão das credenciais: até os jornalistas foram afetados e trabalharam no primeiro dia com credenciais provisórias.

Os participantes não se abalaram com esses problemas: no saguão e mesmo na fila, trataram de se enturmar ou ligar o notebook e esperar a sua vez. Exemplo dessa animação é o piauiense Evanilson Santos, 22, que trouxe o irmão para ver o planetário e aproveitou para dar show no simulador de luta virtual.

"Fiquei sabendo sobre a Campus Party num programa de TV hoje cedo e resolvi vir ao Ibirapuera", conta ele. O evento é aberto à visitação, o que permite a quem não vai participar da feira sentir um pouco do clima. São esperados 5.500 visitantes.

Motivação diferente tinha o paraibano Jader França: com apenas 16 anos, veio de João Pessoa com mais dois amigos para passar os seis dias da feira. Entre as atividades do seu interesse estão o modding (design de gabinetes turbinados para o computador) e um campeonato de Street Fighter. Na bagagem, um adaptador de fliperama para PC comprado pela Internet.

Coisas como essa dão o tom da Campus Party. Nesses seis dias estão planejados mais de 200 eventos e ainda assim os participantes criam outras atividades de forma autônoma.

Arte com o computador

A mitologia nórdica e desenhos geométricos foram as inspirações para Erich Beall "tunar" o computador. Com um gabinete com esses motivos e colorido nas cores azul e preta, o paulista de Osasco venceu a primeira competição realizada na Campus Party Brasil.

Uma modalidade cada vez mais comum, o casemod não tem somente o objetivo de deixar o computador mais bonito. A intenção é deixar o computador mais potente para rodar jogos ou outros aplicativos.

Caminhando pelo segundo andar do prédio da Bienal é possível encontrar vários desses super PCs. Um dos mais chamativos é um computador com um reservatório cheio de um líquido verde na traseira. Nesse caso, é apenas arte, mas são muitos os computadores com refrigeração à base de nitrogênio líquido.

Mais uma "ronda" pelo segundo andar e encontro um campusero que não fala nem português nem espanhol (idiomas quase oficiais do evento): é o belga Etienne Delacroix, pesquisador do MIT e também artista.

Mas qual o ofício de Delacroix? Usar peças de computador de 20 anos atrás para criar arte digital. Borracha, canos de PVC e outros materiais são misturados aos componentes eletrônicos para criar peças originais.

Há uma certa crítica ao uso desenfreado da tecnologia na obra de Delacroix: "Hoje temos 3 bilhões de pessoas usando computadores. Tente imaginar a quantia de lixo digital criada por esse uso".

Segundo o artista, outra faceta de sua obra é o registro histórico dos primórdios da informática: "Muitos dos jovens portando um laptop hoje nunca viram uma placa-mãe dos anos 90", provoca ele ao me mostrar um exemplar.

Susto

Por pouco a Receita Federal não estraga o início da Campus Party. O Quasi, robô criado pela universidade Carneggie Mellon, ficou preso na alfândega até o meio da tarde: a Receita alegava não ter garantias de que o humanóide sairia do país com as mesmas peças da entrada.

O resultado disso foi um "bolo" nos jornalistas: a entrevista com o Quasi, marcada para as 18 horas, foi conduzida pelos humanos mesmo: Sérgio Amadeu e Marcelo Branco, da comissão organizadora da Campus Party.

Na coletiva, Branco acentuou as diferenças entre as edições espanholas e a edição realizada no Brasil: maior participação feminina e ênfase em conteúdos colaborativos. "Produto espanhol com tempero brasileiro", definiu ele.

Aqui, as mulheres são 22%, lá são apenas 12% dentre os campuseros. Na programação brasileira houve maior atenção para as áreas de blogs, conteúdos educativos e colaborativos.

Exemplo disso são quatro cursos sobre astronomia, blogs e robótica, com participação de mil professores da rede estadual de ensino. O objetivo é aplicar os conhecidos trazidos ao Brasil pela CP para aprimorar as aulas do ensino fundamental.

Regulação digital

No fim da noite, dois convidados chegaram à festa no Ibirapuera para abrir oficialmente a Campus Party. Um deles era esperado: o Quasi finalmente escapou da Receita Federal e chegou ao prédio da Bienal por volta das 23h30.

Pouco antes, a surpresa pela chegada de Gilberto Gil, ministro da Cultura. Gil abordou três aspectos da Internet no Brasil em sua exposição: a necessidade de levar a Internet banda larga a todo o país, o uso do software livre e a necessidade de regulação do espaço virtual.

A fala sobre a banda larga é de opinião corrente: a utilização da conexão de alta velocidade como fomentadora da educação e do desenvolvimento e disseminação da cultura.

Em segundo lugar, o uso do software livre. O ministro falou da importância do uso dessas ferramentas nos países em desenvolvimento e afirmou que "mesmo a indústria do cinema em Hollywood usa programas baseados em plataformas abertas".

Por fim, Gil acentuou a importância da discussão e regulamentação do espaço virtual. Mas ele não entende regulamentação como controle: a visão é de uma discussão livre e democrática sobre a Internet, com a participação do Estado, sociedade civil e pensadores da área acadêmica.
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