Camisetas, chaveiros, livros e, claro, distribuições Linux são apenas alguns dos produtos que figuram na vitrine da loja para amantes do sistema operacional de código aberto Linux Mall.
O
UOL Tecnologia conversou com Adriano Caetano, diretor da LinuxMall, para saber a quantas anda esse mercado. O executivo revelou que sua empresa tem registrado taxa de crescimento anual de 30%, devendo chegar a R$ 2 milhões em 2007.
Além disso, ele acredita que o Linux tenha definitivamente amadurecido e conquistado seu espaço no mercado de tecnologia. Mas Caetano critica a iniciativa do governo de incluir o Linux nos computadores populares apenas como forma de barateá-los.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
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UOL Tecnologia - Como e quando surgiu a idéia de criar a Linux Mall?
Adriano Caetano - Tudo começou aos 16 anos de idade, quando ganhei um computador com tela verde. Possivelmente meus pais não sabiam a conseqüência daquele presente. Foi quando conheci um tal de Linux (na época sistema operacional para hackers). Comprei um pacote chamado Slackware Linux, com seis discos —levei exatos sete dias para instalá-lo.
Depois de adquirir algum conhecimento sobre o sistema operacional, criei uma página na Internet chamada Ano2001, na época, uma data ainda bastante distante. O site aliava design (um dos meus hobbies) e textos que ajudavam outros usuários do Linux.
Devido à dificuldade em conseguir o Linux, muitos visitantes me solicitavam uma cópia do sistema. Foi quando decidi disponibilizar CDs com distribuições do Linux no site para venda. Passei então a conciliar o último ano do ensino médio, o desenvolvimento do site, gerenciamento da vendas de CDs e filas enormes na agência dos correios para
despachar os poucos pedidos do dia. E foi assim exatamente, que surgiu a Linux Mall, cerca de dez anos atrás.
UOL Tecnologia - Você é um fã incondicional do Linux?
Caetano - Sem dúvidas que sim. Sou um entusiasta do software livre bem antes de ter uma empresa focada nesta área. Atualmente tenho 26 anos e estou me formando em Administração de Empresas. Cheguei à conclusão que o setor técnico torna-se um detalhe frente às dificuldades de tocar um negócio.
UOL Tecnologia - Qual o sistema operacional que usa em seu computador atualmente?
Caetano - Atualmente uso o que minha necessidade exige. Não sou radical ou fã de carteirinha de nenhuma distribuição Linux. Uso a que melhor se adaptar às minhas necessidades. Antes o mais legal era "configurar", hoje preciso de uma ferramenta rápida para produzir resultados rápidos. No meu notebook uso Ubuntu 6.10 "Edgy", uma distro que despontou rapidamente, e que hoje vejo como sendo uma das mais práticas para o dia-a-dia.
UOL Tecnologia - Qual é o perfil do consumidor da Linux Mall?
Caetano - É bastante variado, pois nossa linha de produtos também é bastante vasta. Vão de alunos a professores universitários, passando por empresas de pequeno e médio portes e entusiastas de tecnologia em geral. Mas não é raro ver alguém que não vive da informática falando "Olha que bichinho de pelúcia bonitinho" para o Tux (pingüim do Linux), e levando-o para casa.
Se pudesse descrever algumas características básicas de uma parte fiel dos nossos clientes, poderia dizer que são pessoas que gostam de roupas escuras, usam cabelos longos, tênis batido, temem a luz do sol, falam pouco, são extremamente inteligentes e com muito senso crítico [são os conhecidos nerds]. Eles acreditam mais na ciência do que em qualquer religião e não ficam mais de 48 horas longe de um computador sem Internet.
UOL Tecnologia - E quais os produtos mais procurados por esses usuários?
Caetano - O site possui cinco categorias principais - acessórios, livros, software, hardware e networking. Hoje cada uma dessas categorias pode ser uma loja independente, e conseguiria ter "vida própria". Assim, cada uma delas possui os seus "best-sellers".
Mas de uma maneira resumida, as mais vendidas são a caneca Infectious Liquid, camisetas geeks, as etiquetas para notebook, o livro Desbloqueando Celulares e os CDs e DVDs do Debian, Ubuntu e Slackware [distribuições de Linux].
UOL Tecnologia - Como é que você enxerga o mercado de Linux hoje? Ele pode ser uma ameaça ao Windows, ainda que no longo prazo?
Definitivamente o Linux ganhou o seu espaço e amadurecimento. Deixou de
ser uma mera ferramenta, para movimentar o interesse de empresas globais
como IBM, Oracle, Novell, entre outras. O Linux cai como uma luva para serviços de Internet em servidores, serviços de automação bancária/comercial, e sistemas embarcados. Hoje vemos o Linux ser implementado em celulares, smartphones e roteadores com uma flexibilidade de desenvolvimento infinita.
Mas o lado de maior ansiedade e expectativa está no Linux para desktop como concorrente do sistema operacional da Microsoft. Para usuários experientes, pode ser uma ótima solução. Devido à descentralização de desenvolvimento e diversos outros fatores, fica difícil trazer esta realidade para perto do usuário leigo. Não acho que o sistema esteja preparado para equipar micros vendidos em supermercados só como forma de deixá-lo mais acessível, pois é necessário levar em conta o pós-venda. Como este usuário leigo irá "enfrentar" esta realidade sozinho? Quase tudo disponível nas prateleiras das lojas não é para Linux, e mesmo se fosse, a dificuldade de instalação atrapalha em muitos casos.
Existem muitos esforços no sentido de facilitar as coisas, alguns com foco em simplesmente ganhar dinheiro e outros com um trabalho mais denso e resultado no usuário. Neste último caso, posso citar os projetos KDE, Gnome, a distribuição Ubuntu, e o Google com ferramentas focadas na Web.
Lembro-me de diversas iniciativas de empresas que surgem para lançar um "Linux parecido com o Windows", e insistem nisto como idéia revolucionaria. Não vi nenhuma delas passar do primeiro ano de vida ou não serem duramente criticadas pelo seu formato de negócios.
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