UOL Notícias Tecnologia

15/02/2008 - 09h42

Conhecimento em rede e software livre dão tom acadêmico à Campus Party

CHARLES NISZ | Para o UOL Tecnologia
O quarto dia de Campus Party recebeu os convidados mais ilustres do evento. Jon "Maddog" Hall e Steve Johnson atraíram as duas maiores platéias, pelo menos até quinta-feira. Software livre e conhecimento em rede deram um tom mais libertário —e acadêmico— à Campus Party.

Ambos são professores, defendem produção e disseminação de conhecimento para além das vias tradicionais e mostraram também que são bons evangelizadores de suas causas.

O que você está achando da Campus Party

Hall começou sua palestra por volta das 19h e atraiu todos os campuseiros da área de software livre. O discurso do norte-americano é sedutor e capitaliza a atenção dos amantes do Linux.

"Perceber o software como serviço e não apenas como produto será o futuro —e foi o passado da computação", diz ele. "O código proprietário é uma anomalia da informática", alfineta Hall, para delírio a platéia.

Dinheiro com código aberto

Hall passou a enumerar vários casos de negócios ligados ao software livre para introduzir outra idéia: "Só porque é livre não significa ser de graça", pontua o consultor. Administração de redes, análise de sistemas, segurança de redes e outras áreas da informática foram algumas das áreas citadas por Hall ao falar sobre como fazer dinheiro com código aberto.

Muitos desses casos aconteceram nos países emergentes, e Hall deu mais detalhes sobre um caso brasileiro: "Uma empresa precisava explorar a Mata Atlântica, e o programa de código fechado era caro e ineficiente", contou. Um programador usou software livre para criar a solução para a empresa. O resultado: "O programa custou US$ 380 mil dólares e a empresa lucrou US$ 9 milhões", conta ele.

Isso desemboca em outra vantagem do software livre, segundo Hall: empresas e pessoas físicas podem ter soluções personalizadas. "Pequenas empresas tinham dificuldade em integrar seus sistemas e apelavam para programas fechados. Mas nem sempre esses aplicativos resolvem os problemas das pessoas", afirma Hall.

Ao final da palestra, Hall usou outro caso brasileiro. Quando a USP trabalhava no supercomputador em 1995, um dos desafios era criar um programa para leitura de mamografias para diagnosticar câncer. "Um programa de código-aberto reduziu o tempo de análise de 10 horas para 10 minutos. O fato de qualquer pessoa poder aprimorar um sistema ajuda na velocidade de melhoria e implementação dos programas", disse ele.

Ao fim da apresentação, as palmas duraram vários minutos: resultado de um tema atraente e um palestrante com um discurso sedutor. Velho ativista do software livre, Hall mantém seu público fiel.

Conhecimento em rede

Steve Johnson veio ao Brasil lançar seu novo livro, "O mapa fantasma". E a obra pautou sua apresentação, que aconteceu por volta das 20h de ontem.

"A maior epidemia de cólera do século XIX em Londres foi resolvida quando dois homens cruzaram os dados sobre as pessoas vitimadas pela epidemia", contou Johnson ao explicar o título do livro. Isso faz lembrar aplicativos atuais que cruzam mapas e diferentes dados para produzir outras informações, os chamados "mash ups".

E por que isso ocorre? Segundo ele, a explicação está no "interesse das pessoas e na capacidade delas em criar conteúdo em colaboração". Mas para que isso aconteça, os dados precisam circular livremente —fazendo lembrar a apresentação de Maddog e a discussão sobre o uso de ferramentas P2P.

O mapa é a forma ideal de dispor esses dados porque "permite uma visualização dos dados de forma mais global", continuou Johnson. Afirmação que remete à proliferação de GPS, softwares geográficos e outros programas baseados no uso de dados por localização.

"Mas a origem de tantas mudanças na criação e recepção de conteúdos está no cérebro humano", diz Johnson. Esse é o tema do outro livro seu recém-lançado no Brasil, "De cabeça aberta".

"Não é simples lidar com a atual avalanche de informação. O cérebro humano está expandindo cada vez mais sua capacidade de adaptação por causa das novas tecnologias. Mas mudanças profundas sempre criam problemas", finalizou Johnson.

Compartilhe:

    Últimas Notícias

    Hospedagem: UOL Host