UOL Notícias Tecnologia

15/02/2008 - 10h00

Liberdade é palavra-chave no uso da Internet na Campus Party

LILIAN FERREIRA | Do UOL Tecnologia
Você pode achar certo ou errado que pessoas usem a conexão de 5,5 Gbps da Campus Party para baixar arquivos ilegais da Internet. Mas há um consenso entre organizadores e participantes do evento: a Internet é um ambiente livre. E muitos campuseiros optaram por aproveitar a super banda para fazer o download de arquivos e usar programas de transferência de arquivos P2P.

Para ter uma idéia, é possível baixar 12 GB em seis horas, e filmes inteiros em 8 minutos. Existem até máquinas com 1 TB de arquivos de áudio, vídeo e games na rede P2P da feira.

O que você está achando da Campus Party

"Impedir o Bit Torrent é censura prévia. Isso sim é crime", disse ao Gigablog Marcello Branco, um dos coordenadores da Campus Party sobre o popular programa de compartilhamento de arquivos.

Para Polkan Garcia, diretor de tecnologia da Futura Networks (empresa que organiza a Campus Party em todo o mundo), não existem modos de filtrar o conteúdo para excluir o download ilegal. "Não seria só proibir sites como o Rapidshare ou o Megaupload, arquivos estão por toda a rede. Seria necessário bloquear a Internet para impedir que isso aconteça", explica.

Além disso, ele lembra que a banda é muito usada também para a troca de material da feira. Vídeos pesados, textos e áudios são enviados e recebidos de e para os campuseiros. "Nosso pico de tráfego foi uma taxa de 1 Gbps de download e 1,6 Gbps de upload. É daqui que saem as novidades. E nós promovemos esse compartilhamento pela Web, para que a pessoa se sinta na Internet".

Claro que ele não ignora o uso da conexão super rápida para download de arquivos ilegais. Segundo Garcia, na Espanha os participantes também usam a banda da feira para baixar arquivos.

Responsabilidade do usuário

O organizador da feira no Brasil, Roberto Andrade, diz que a responsabilidade é do usuário. "A Campus Party não incentiva o download de material proibido, mas defende o direito de compartilhar arquivos."

Entre os campuseiros esta não é uma questão fechada, muitos têm ressalvas quanto ao download de conteúdo protegido por copyright. Mas todos são categóricos ao afirmar que a decisão tem de vir do usuário e não uma imposição "de fora".

Thiago Virbickas, design acampado na feira, é favorável à livre divulgação de conteúdo na Internet, mas contra a quebra do copyright. "Na minha cidade, Francisco Mourato, todas as locadoras de vídeo fecharam porque não aguentaram a concorrência. Comprar filme é caro, mas as pessoas podem alugar. É preciso devolver o investimento de bilhões de dólares que são gastos para produzir os filmes". Ele acredita que a rede possa servir para você conhecer coisas e se gostar, pagar por elas. Sejam filmes, músicas, games ou qualquer outro arquivo.

Polkan lembra ainda que a questão é muito complexa e envolve muitos grupos da sociedade. Por isso o governo evita entrar na discussão e até tomar medidas impeditivas. "Imagine quantas pessoas usam as redes de troca de arquivo diariamente e seriam prejudicadas, fora toda a comunidade da Internet que seria contra. Temos exemplos de países como a China e Cuba que adotam a censura. E não é este modelo que vem sendo copiado", afirma.

No Brasil, quem responderia pelo uso ilegal da Internet seria o provedor de acesso, a Telefônica. Desde ontem às 18h, a reportagem tentou contato com a empresa, mas não obteve retorno.

Segundo os campuseiros, a sensação geral é de impunidade. Fiscais dão dicas de sites de download e não parecem preocupados com a questão. "Teoricamente eles deveriam proibir, mas não parece ser prioridade para o governo", diz Virbickas.

E qual a saída?

Com toda pressão gerada pelo download ilegal de arquivos e a alegação de que o motivo é o alto preço cobrado pelos produtos, as empresas tiveram que se adaptar à nova realidade e buscar alternativas.

A tendencia são as empresas abaixarem os preços para coibir o download ilegal. Como já estão fazendo a Adobe e a Microsoft, por exemplo. Além disso, houve grande propulsão do uso de softwares livres em vez de proprietários piratas.

Pelo outro lado da questão, para o campuseiro Virbickas, só a educação e o conhecimento farão com que as pessoas percebam que ao infringir o direito autoral estão prejudicando alguém e que existem maneiras legais e baratas de consumir o que deseja.

Ele cita o exemplo da Apple, que vende filmes e séries por menos de US$ 3. "Você tem um material de qualidade e não comete nenhum crime. E o Steve Jobbs, presidente da empresa, ganha dinheiro com isso". Virbickas lembra ainda que a Apple só vendia músicas com DRM (Digital Rights Management, ou gerenciamento de direitos autorais, tecnologia que impede a cópia do arquivo) e que passou a vender sem a proibição por "pedido" dos usuários.

A solução encontrada? Transferir para o usuário a multa cobrada pela distribuição destes arquivos. Então, estava na mão dele decidir entre pagar mais para ter uma música sem DRM ou não.

Paulo Araújo, desenvolvedor para Web, destaca o uso que o filme "Tropa de Elite" fez uso da pirataria para se promover, e compara-o com casos da computação.

"A ID Software possui vários games bons e pagos, ai resolveu distribuir um jogo tão bom quanto de graça. Se a pessoa gostar do gratuito, vai querer comprar mais games da empresa. Outro caso é do Counter Strike, que foi desenvolvido em cima do Half Life. Hoje, muita gente conhece o Counter, mas nunca ouviu falar do Half, mas as vendas do Half subiram absurdamente a partir da popularização do Counter Strike, que custa cerca de R$ 20."

Já Garcia lembra da ação do Quake arena e do grupo musical Radiohead. Quando foi lançado o Quake 3 arena, foi colocado no ar também o Open Arena, versão de código aberto do game. A banda disponibilizou seu último CD para download na Internet e a pessoa pagava o que quisesse para ter o álbum. O resultado: sucesso em ambos os casos. Para ele, não adianta impedir, toda vez que tentarem inibir os direitos individuais alternativas serão encontradas.

A conclusão é que (quase) todos são favoráveis à troca de arquivos pela Internet, mas não necessariamente de uma maneira ilegal. O esperado é que as coisas encontrem um equilíbrio &mash;as pessoas descubram que podem baixar arquivos legais pagando pouco por eles e as empresas baixem seus preços para combater a pirataria.

Compartilhe:

    Últimas Notícias

    Hospedagem: UOL Host